As empresas enfrentam hoje cada vez mais dificuldades para atrair e reter o talento que necessitam. Segundo dados do estudo Talent Shortage & What Workers Want da ManpowerGroup, 2019 registou a maior de escassez de talento da última década, com 54% dos empregadores a nível global a revelarem ter problemas no momento de recrutar. Em Portugal, este valor sobe para os 57%, crescendo 11 pontos percentuais face a 2018, e coloca o país no grupo dos que enfrentam dificuldades acima da média para atrair talento qualificado.
Em relação ao ano anterior, a escassez de talento agravou-se em 37 dos 44 países e territórios analisados. Japão, Roménia e Taiwan são os países que se deparam com maiores entraves na atração de candidatos, enquanto que a Irlanda, o Reino Unido e a China são os países onde o problema assume menor dimensão.
“Num momento em que a tecnologia ganha um peso crescente no mundo do trabalho, o que observamos é que as empresas, em vez de reduzir, estão na realidade a ampliar a sua força de trabalho e debatem-se, hoje, com valores recordes de escassez de talento” sublinha Rui Teixeira, Chief Operations Officer da ManpowerGroup Portugal.
Rui Teixeira destaca ainda como a transformação digital, os avanços tecnológicos, e a consequente revolução de competências, estão a obrigar as empresas a ajustar o seu foco: “Há claramente um desencontro de competências que tem de ser abordado. Neste contexto, a aposta pela formação e requalificação do talento tem de ser uma prioridade, associada a uma crescente capacidade das empresas para abordar pools de candidatos diversas, avaliando o seu potencial futuro mais do que a sua experiência passada.”
Cargos especializados são os mais difíceis de preencher
A escassez de talento é relatada em todos os principais setores de atividade. Em Portugal, destacam-se os setores da Restauração e Hotelaria e o setor da Construção, com 81% e 80% dos empregadores, respetivamente, a reportarem dificuldades na atração e retenção de talento. Segue-se o setor dos Transportes, Logística e Comunicações e o setor da Indústria, com 68% e 62%, respetivamente. Nos setores da Agricultura, Floresta e Pescas e do Comércio Grossista e Retalhista, 56% dos empregadores também indicam dificuldades para encontrar talento.
A nível global, as vagas para cargos especializados, como eletricistas, soldadores e mecânicos, são as mais difíceis de preencher. Surgem depois os trabalhos em vendas e marketing, incluindo comerciais, managers e designers gráficos. As funções técnicas, os engenheiros e os motoristas também aparecem na lista das cinco posições mais difíceis de preencher.
Em Portugal são também as profissões especializadas, como eletricista, soldador e mecânico, que revelam maior dificuldade para atrair talento. Seguem-se os cargos técnicos, como o controlo da qualidade, os motoristas, os trabalhos de Customer Support e as funções de serviço em Hotelaria e Restauração.
Preferências de candidatos e trabalhadores: one size fits one
O estudo da ManpowerGroup revela ainda os principais fatores que atraem o talento e que contribuem para a sua retenção e compromisso. Embora se observem variações mediante o país, sexo e geração, algumas conclusões e prioridades são transversais a todos os segmentos: a remuneração surge claramente como a primeira prioridade, mas outros fatores ganham cada vez mais relevância. A autonomia sobre os horários e local de trabalho, de forma a equilibrar vida pessoal e profissional, a mobilidade na carreira e a capacidade de ampliar competências são também prioridades de topo. Destacam-se ainda a necessidade de um propósito e uma liderança forte.
A nível geracional, o estudo mostra claramente que o momento da carreira é decisivo na forma como impacta as prioridades de cada grupo. A geração Z (18-24 anos) é ambiciosa, motivada pelo dinheiro e pelo desenvolvimento de carreira, com as mulheres a dar mais importância ao salário do que os homens. Já os millennials (25-34 anos) querem flexibilidade e um trabalho desafiador. Se para as mulheres essa flexibilidade é fundamental, para os homens esta questão assume uma importância menor do que o desafio profissional.
Por sua vez, a geração X (35-54 anos) procura o equilíbrio. Os homens atribuem tanta prioridade à flexibilidade quanto as mulheres, e querem ter a possibilidade de trabalhar remotamente e usufruir da sua parte de licença parental, e horários flexíveis.
Por fim, os baby boomers (55-64 anos e mais de 65) são motivados pelo salário, por um trabalho desafiador e pela flexibilidade, embora atribuam maior prioridade do que as restantes gerações à liderança e às equipas.
“No atual contexto de escassez, as empresas necessitam de adaptar a sua proposta de valor de empregador, desenvolvendo soluções inovadoras, que vão mais além da remuneração, e que respondem ao mix específico de preferências dos seus trabalhadores e candidatos. A flexibilidade laboral, as soluções alternativas de compensação, a oferta de oportunidades de desenvolvimento, fomentando a learnability, ou seja a capacidade e o interesse em aprender novas skills ao longo da carreira profissional, são sem dúvida ferramentas que permitirão às empresas diferenciar-se, atrair e reter melhor no futuro” conclui Rui Teixeira.
Os dados de Talent Shortage foram extraídos de entrevistas realizadas a mais de 24.000 empregadores, em 44 países e territórios, enquanto que as conclusões sobre as preferências dos trabalhadores resultam de 14.000 entrevistas individuais realizadas em 15 países.