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Subida dos preços apenas começou
2021-07-01

O Fundo Monetário Internacional (FMI) acredita que os preços dos alimentos vão continuar a subir, refletindo-se no preço ao consumidor durante este e o próximo ano.

Christian Bogmans, Andrea Pescatori e Ervin Prifti, economistas do FMI, publicaram uma nota na qual analisam o que se está a passar com os alimentos e lançam as suas próprias previsões. “Apesar dos preços dos alimentos terem moderado recentemente, isto pode mudar nos próximos meses. Esta alteração somar-se-ia aos preços altos que os consumidores já experimentaram”, indicam.

Os especialistas comentam que, apesar da produção de cereais e de outros alimentos estar a atingir níveis recorde, o que, em teoria deveria forçar os preços a descer, a sua utilização também se está a intensificar. Um maior consumo humano, a estratégia de acumulação de alguns países e a procura para a alimentação animal são fatores que estão a potenciar a subida das cotações. “Não obstante, esta tendência nos alimentos internacionais apenas está a começar a refletir-se nos preços pagos pelo consumidor em cada país”.

4 fatores

O FMI cita quatro fatores que explicam a subida dos preços dos alimentos, a nível global. Em primeiro lugar, a inflação, que já aumentava antes da pandemia. Durante o verão de 2018, a China viu-se afetada por um surto de peste suína africana, que acabou com grande parte das suas criações de porcos, correspondente a 50% de todos os porcos no mundo. Isto fez com que os preços da carne de porco na China tenham atingido, em meados de 2019, máximos históricos, o que gerou um efeito dominó nos preços da carne de porco e de outras proteínas animais em muitas regiões do mundo.

A situação foi, também, agravada pela introdução de tarifas à importação na China sobre a carne de porco e a soja norte-americana, durante a disputa comercial entre Washington e Pequim.

Outro dos fatores a considerar são os primeiros confinamentos para conter a Covid-19 e as interrupções que causaram nas cadeias de abastecimento. No início da pandemia, estas interrupções, as alterações nos hábitos das famílias, como deixar de comer fora do lar, e a acumulação de stocks por parte dos consumidores, juntamente com a forte valorização do dólar americano, provocaram uma subida nos índices dos preços dos alimentos ao consumidor em muitos países.

Não obstante, o FMI esclarece que “embora os preços dos alimentos nos supermercados (isto é, os preços dos alimentos ao consumidor) possam ter aumentado, é exagerado dizer que estão, atualmente, a crescer ao ritmo mais elevado dos últimos anos. Tão pouco estão a contribuir, de forma notável, para a inflação geral, embora seja possível que o façam no final do ano e em 2022. Os preços ao produtor, por outro lado, dispararam recentemente, mas serão precisos seis a 12 meses para que os preços no consumidor reflitam estas mudanças. Além disso, em média, a transferência de preços do produtor ao consumidor é de, apenas, 20%”.

O terceiro fator a impulsionar a subida dos preços é o aumento dos custos de envio e de transporte. As tarifas do frete marítimo, medidas pelo Baltic Dry Index, aumentaram duas a três vezes nos últimos 12 meses, enquanto a subida dos preços dos combustíveis e a escassez de semicondutores para camiões, em algumas regiões, estão a elevar o custo do transporte rodoviário. Espera-se que alguns destes fatores persistam no tempo, o que poderá prolongar a subida dos preços dos alimentos.

Finalmente, os preços dos produtores de alimentos estão a atingir máximos, a nível mundial. Desde que registaram os valores mínimos, em abril de 2020, aumentaram 47,2%. Sem descontar o efeito da inflação, estão ao nível mais elevado de sempre. Entre maio de 2020 e maio de 2021, os preços da soja e do milho subiram, respetivamente, 86% e 111%.

Os economistas do FMI justificam este fenómeno com várias razões. Por um lado, a procura de alimentos, tanto para consumo humano como animal, manteve-se elevada, especialmente na China, uma vez que os países acumularam reservas de alimentos, devido às preocupações de segurança alimentar causadas pela pandemia.

Por outro lado, os fenómenos meteorológicos, como o recente episódio, em 2020 e 2021, que provocou um clima seco nos principais países exportadores de alimentos, como a Argentina, o Brasil, a Rússia, a Ucrânia e os Estados Unidos da América, levando a que, em alguns casos, as colheitas e perspetivas de safra não correspondam às expectativas.

Finalmente, a forte procura por biocombustíveis pressionou ainda mais a procura especulativa por parte dos traders e de outros agentes, ao que se somam as restrições à exportação em alguns países.

Inflação

Os economistas do FMI creem que, tendo em conta estes fatores, é bastante provável que a inflação dos alimentos chegue ao consumidor ainda este ano e em 2022. “De facto, o forte aumento recente dos preços internacionais dos alimentos já começou a influenciar, lentamente, os preços ao consumidor interno em algumas regiões, à medida que os retalhistas, incapazes de absorver os custos crescentes, passam esses aumentos ao consumidor final”.

O FMI crê que esta tendência irá agudizar-se, com os preços internacionais dos alimentos a aumentarem, aproximadamente, 25% em 2021 e, embora estabilizem, este incremento irá infiltrar-se nos preços finais nos seis a 12 meses seguintes. “Uma transferência de 20% (13% em 2021 e 7% em 2022) implicaria, portanto, um aumento da inflação dos preços dos alimentos ao consumidor de, aproximadamente, 3,2 pontos percentuais e 1,75 pontos percentuais, em média, em 2021 e 2022, respetivamente. Não obstante, poderá somar-se um ponto percentual adicional à inflação mundial dos alimentos em 2021, pelo encarecimento do transporte”.

Impacto díspar

O impacto não será igual em todos os países. Nos menos desenvolvidos, existe uma maior vulnerabilidade ao aumento dos preços nos alimentos frescos, além do risco cambial das suas divisas face ao dólar. “Dado que a maioria dos produtos alimentares se comercializa em dólares americanos, os países com moedas mais fracas viram aumentar a sua fatura na importação de alimentos”, nota o FMI.

Além disso, os mercados emergentes e os países mais pobres também são mais vulneráveis às crises nos preços dos alimentos, porque os seus consumidores gastam uma fatia maior dos seus orçamentos na alimentação.


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L.Branca/PAE

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