O mais recente Panorama Económico divulgado pela Iberinform sobre as empresas não financeiras portuguesas entre 2014 e 2018 revela que, após o período de «ajustamento financeiro», as empresas recuperaram os níveis de captação de negócios e de criação de valor e emprego, mas não os níveis de investimento. “De todas as principais determinantes da competitividade das empresas em Portugal, o investimento não conseguiu recuperar as fortes perdas registadas no período de «ajustamento», tendo uma diminuição de -0,5% entre 2009 e 2018”, refere o estudo.
O volume de negócios das empresas não financeiras portuguesas teve uma recuperação suave no período de 2014 a 2016 (1,7% em 2014 e 2,7% em 2015 e 2016) e uma recuperação mais significativa em 2017 (9,1%) e 2018 (6,4%). Contudo, a Iberinform estima que haja uma “desaceleração substancial” em 2019 e 2020, “resultante das ameaças que se foram acentuando, tanto em termos de procura interna, como em termos de procura externa.”
Perante o condicionamento da procura interna, a externa foi a via estratégica fundamental para as empresas não financeiras nacionais que aumentaram o seu número de 15% para 17% e a sua taxa de exportação de 31% para 36%. No entanto, sublinha a análise da Iberinform, “o peso das importações no total de fornecimentos, apesar de ter sido reduzido, é ainda elevado e superior ao total (38% versus 29%)”.
O valor dos empregados e o emprego tiveram uma evolução semelhante entre 2014 e 2018, enquanto a produtividade estagnou em cerca de 31 mil euros, montante muito inferior aos 51 mil euros em Espanha e aos 71 mil euros em França. O custo unitário dos empregados em Portugal, indicador de qualificação e valorização dos mesmos, manteve-se muito inferior ao dos países de referência e estagnou nos 18 mil euros/ano.
Entre 2014 e 2015, a taxa de margem de segurança económica das empresas não financeiras foi baixa (0,7% e 1,4%), mas a partir de 2016 atingiu níveis acima dos 8% e superiores aos das empresas de Espanha, França e Alemanha. A rendibilidade económica bruta recuperou da quebra sofrida até 2012 e elevou-se até 2017, com níveis superiores aos dos países de referência (11,1%), mas com uma diminuição em 2018, para 10,6%.
O maior risco financeiro nas empresas não financeiras portuguesas manifestou-se na grande absorção do resultado económico pelos juros (custos de financiamento) no período de «ajustamento financeiro», com o pico de 60,9% a ser atingido em 2012, valor que contrasta com os 35,1% em Espanha. Contudo, a quebra das taxas de juro na União Europeia e a diminuição do nível de endividamento aproximaram progressivamente esse grau de absorção (22,1% em 2017, 18,1% em 2018) dos níveis de Espanha (15,9%). Não obstante, a autonomia financeira das empresas portuguesas (37,8% em 2018) manteve-se a níveis inferiores aos de Espanha (46,9%), vulnerabilidade importante que deverá ser ultrapassada no financiamento dos novos investimentos, face ao risco de aumento de taxas de juro a longo prazo.
Nas empresas portuguesas em análise, a relação valor versus risco, medida pelo «Economic Value Added» (EVA), é determinada por um superior custo dos capitais remunerados estimado, associado a um maior risco financeiro, que tem vindo a diminuir (passou de 11,6% em 2010 para 4,5% em 2018). Um superior nível de fluxos de valor económico líquidos de impostos/investimento económico, suportados nas exportações, suavizou os impactos do «ajustamento financeiro» e permitiu a sua recuperação, com níveis positivos de EVA a partir de 2015. Na análise da Iberinform: “os novos investimentos a realizar, financiados por um nível superior de capital próprio, poderão gerar uma criação de valor económico mais sustentada em atividades económicas com maior valor acrescentado, maior valor de empregados, menores impactos ambientais negativos e menores conteúdos importados”.