Observatório de Tendências indica que 52% dos portugueses estão adaptados à nova realidade
Portugueses demonstram um nível de otimismo moderado (com uma média de 6.11 em 10) face ao momento que estamos a viver. Numa perspetiva futura, o otimismo aumenta (uma média de 6,30), com os homens a verem um futuro com mais confiança do que as mulheres. Ainda assim, este nível de otimismo fica aquém da média dos países da América do Sul (6,43) ou da Europa do Norte (6,78). 52% dos inquiridos portugueses respondem também que estão algo adaptados contra os 42% que referem estar desconfortáveis (17%) ou com muitas dúvidas (25%). A preocupação com a proteção na área da saúde (74%), a procura por uma alimentação mais saudável e pelo consumo de produtos locais (73%) e o apoio da tecnologia (73%) são as principais transformações positivas que os inquiridos esperam ver evoluir no futuro.
Estas são algumas das conclusões do Observatório de Tendências, um survey desenvolvido pelo Grupo Ageas Portugal e a Eurogroup Consulting Portugal, que tem como propósito identificar as tendências emergentes do contexto de pandemia da COVID-19, com ênfase nas transformações positivas que podem ocorrer na sociedade. Tendo como ponto de partida a resposta à pergunta “Como é que a crise sanitária e económica que enfrentamos influenciará o consumo, hábitos de vida e de trabalho de cada um de nós?”, o Observatório auscultou as mudanças nos valores, comportamentos e consciência social e ambiental da sociedade e em cada indivíduo nas dimensões Cidadão, Colaborador, Consumidor.
Com base nas respostas nestas três dimensões, e após uma análise transversal e cruzada das mesmas, o Observatório lança oito grandes tendências que sobressaem deste estudo: o desejo de Sonhar (por novas utopias, despertar de aspirações), os Receios revelados pelo caminho para as transformações positivas, nem sempre evidente para todos, o enfase na Saúde e Bem-Estar (com Cuidar mais e viver melhor), a necessidade acrescida de Proteção, uma Solidariedade reflexo de forte aspiração, o aparecimento do novo conceito de Homification (a minha casa como o centro do mundo), um Consumidor/Cidadão Mais Consciente, e o Trabalho assente numa e-transformação duradoura.
O que sentiram os portugueses durante confinamento?
Ao longo do período de confinamento, os inquiridos revelam ter sentido falta de encontros com a família e amigos (26%), de viagens (15%) e atividades culturais (13%). Em linha com estas faltas sentidas, encontram-se as prioridades do momento. Cuidar da família é o fator mais importante para 26% dos inquiridos, assim como a melhoria dos hábitos e estilos de vida e os encontros sociais, com 20% e 19% respetivamente.
Ainda dentro das prioridades, mas por parte do Governo, 50% dos inquiridos abordam a saúde em primeiro lugar, seguida pela Equidade Social e Justiça (24%), crescimento (21%) e, por fim, o Ambiente (4%).
No entanto, e apesar do Ambiente estar em terceiro lugar como prioridade do Governo, a maior parte das alterações estruturais admitidas pelos inquiridos durante o confinamento (cerca de 50%) diz respeito à reciclagem, reutilização e redução do consumo e do uso de plástico, mostrando uma preocupação maior com a sustentabilidade. Paralelamente, se algumas novas atividades foram estabelecidas, algumas foram adiadas ou aceleradas. A compra de carro foi a decisão mais frequentemente adiada, tal como como a compra de casa. A necessidade de mudar de local ou alterar habitação (10%) foi alvo de algumas acelerações, só destronada pela formação, que foi, por si só, objeto de decisões. 15% aproveita para acelerar projeto de formação e 18% preferiu ou teve de adiar.
Já dentro da dimensão do colaborador, os resultados mostram uma apreciação relativamente boa do teletrabalho (2,90 em 4), especialmente por parte dos mais jovens, apreciação que vai reduzindo claramente com o aumento da idade.
Questionados sobre o comportamento coletivo durante este período, 2/3 dos inquiridos considera que o tempo de confinamento gerou um movimento positivo de responsabilidade e de ajuda mútua.
Já referente ao período pós confinamento, 32% dos inquiridos admitem que a saúde passou a estar no topo das suas preocupações para os próximos meses, a par da redução de rendimentos (21%) e o risco de violência/conflitos sociais (19%). A incerteza laboral (12%) e a educação das crianças (10%) encontram-se logo a seguir. Neste contexto, apenas 4% dos inquiridos referem não ter qualquer receio.
Em resumo, e apesar de ser um momento de muitas dúvidas, no qual as pessoas se encontram num estado de adaptação ainda parcial, o momento de crise pandémica que estamos a atravessar desperta uma série de aspirações para transformações positivas, que tocam dois níveis.
O primeiro, da camada mais profunda dos indivíduos, nomeadamente os seus valores, as suas prioridades e necessidades. Por um lado, o foco na família, agora combinado com uma forte aspiração à solidariedade, à aspiração para saúde e bem-estar, para uma alimentação saudável e aquisição de produtos locais. Por outro lado, existe alguma fragilidade, denotada pela necessidade acrescida de proteção e previdência e poupança.
O segundo da camada dos comportamentos sociais, essencialmente, a casa como centro das nossas vidas, o consumo mais racional e mais consciente, a relação com o ambiente e uma prática mais sistemática de gestos para a sustentabilidade e a transformação duradoura do trabalho, apoiada na tecnologia e no desenvolvimento de competências.