“A economia digital, a inovação e o investimento são peças fundamentais na renovação do tecido empresarial”
“A economia digital, a inovação e o investimento são peças fundamentais na renovação do tecido empresarial”, reconheceu Carlos Miguel, secretário de Estado Adjunto e do Desenvolvimento Regional, na sua intervenção no Link Talk Day Alentejo, onde foi analisado o relatório “O Futuro da Economia Portuguesa – Preparar a Retoma Pós-COVID-19”.
No evento, que decorreu no passado dia 27 de julho, via online, dinamizado pela AEP – Associação Empresarial de Portugal, no âmbito do projeto AEP Link, o governante enalteceu o trabalho da associação empresarial, referindo que, com “mais de 170 anos a ajudar as empresas, os empresários e o país, este saber acumulado é algo que não podemos deixar de reconhecer”.
Carlos Miguel partilhou que “a imprevisibilidade e o vivermos o dia de hoje sem termos as mínimas certezas do que vai acontecer amanhã, para as empresas e para os empresários, é dramático, mas também o é para o Governo. Nós experimentamos as mesmas preocupações e os mesmos problemas de querer andar um passo à frente para acompanhar as empresas e os empresários e ter grandes dificuldades devido à imprevisibilidade”. O governante revelou, a título de exemplo, que “neste layoff simplificado tivemos 110 mil empresas que recorreram a este instrumento, envolvendo 850 mil trabalhadores, mas, quando avançámos com esta medida, ao início, pensamos em atingir cerca de 100 mil trabalhadores”. Para Carlos Miguel, “encontrar resposta para esta dimensão é um trabalho hercúleo. Temos a perceção de que estes tempos vão durar, mas não sabemos a perspetiva desta duração”.
Investimento
Para o secretário de Estado, existe uma nota de esperança, neste período de Covid-19, entre os meses de março e junho, nos diversos programas implementados pelo Governo para as empresas, com a receção de mais de 22 mil candidaturas submetidas com a intenção de investimento de mais de 900 milhões de euros. “Ao dia de hoje, já se conseguiu aprovar mais de 17 mil desses projetos, com investimentos superiores a 210 mil milhões de euros. Quer isto dizer que, mesmo nestas perspetivas de falta de confiança no amanhã, as empresas e os empresários acreditam que há um futuro e que é possível dar resposta à situação”, considera Carlos Miguel.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, refere, sobre o projeto AEP Link, no âmbito do qual foi elaborado o relatório “O Futuro da Economia Portuguesa – Preparar a Retoma Pós-COVID-19”, que “foi um exemplo de cooperação institucional e empresarial e isso é algo que, cada vez mais, fará a diferença face à complexidade dos problemas que estamos a enfrentar e que vão exigir soluções mais complexas também”. O presidente da AEP insiste que “nunca é de mais referir a importância da cooperação como fator importantíssimo para resolver um problema central da nossa economia, que é a questão da produtividade”, e considera que, “apesar de estarmos a viver um período em que a tecnologia e inovação estão cada vez mais presentes, serão as pessoas, de facto, o fator diferenciador que permitirá ultrapassar esta situação com sucesso”.
O Link Talk Day Alentejo, dinamizado pela AEP, contou ainda com a apresentação de um diagnóstico do perfil dos investidores e das necessidades das empresas, por Margarida Ramos Pereira e Rui Gidro, da Deloitte. Após Paula Silvestre, diretora da AEP Competitividade, apresentar o estudo “O Futuro da Economia Portuguesa – Preparar a Retoma Pós-COVID19”, seguiu-se o painel “Investimento, Inovação e Digitalização”, moderado por Pedro Janeiro, da Deloitte, com a participação de Paulo Vaz, da AEP, Paulo Nunes, da Two Impulse, António Figueira, do Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia (PACT), e António Monteiro, da Iberinform.
Alteração de paradigmas
No debate sobre os impactos da crise, António Monteiro alertou para a dependência da deslocalização de produção e de aquisição de matérias-primas, dando conta de que os riscos associados a esta prática são bastante relevantes. Para o representante da Iberinform, “vamos ter de nos centrar bastante mais em ter uma visão mais estratégica, mais económica e de longo prazo, em vez de uma perspetiva mais imediatista”, defendendo uma alteração de paradigma na forma como as empresas são geridas.
Por sua vez, António Figueira entende que os empresários devem considerar as influências indiretas aos seus negócios, “que devem ser acauteladas. Vivemos um período muita incerteza e os empresários e os gestores não são imunes a toda esta ansiedade”.
Já Paulo Vaz referiu que há três momentos que presidem às preocupações das empresas, sendo que o primeiro é a luta pela sua sobrevivência, “sendo necessária liquidez”, seguindo-se o período que vai suceder às férias, “que será um momento crítico, havendo muita empresas que irão colocar a questão de encerrar ou reduzir a sua atividade. É um momento complexo, em que as empresas vão tomar a decisão de continuara a viver ou não, sendo um momento de solvabilidade”. O terceiro será o momento de recuperação, em que as empresas vão começar a pensar em crescer.
Paulo Nunes considera que o apoio financeiro do Estado não compensa o impacto que a situação tem sobre a moral e sobre a motivação dos colaboradores. Dando o exemplo da Two Impulse, declarou que “o que nos está a salvar é o facto de nos sermos uma empresa diversificada. Se, por um lado, a indústria automóvel está em queda, a indústria farmacêutica não está”. Outra saída apontada por Paulo Nunes foi a internacionalização, além de ser fundamental para Portugal apostar na qualificação das pessoas, “é a base de tudo, é o que permite ao país ser competitivo”.