A GS1 Portugal-Codipor, entidade responsável pela introdução do código de barras em Portugal, reuniu mais de 400 participantes no 5º Congresso Nacional que, este ano, teve por tema “(Des)codificar o Futuro. Estilos de Vida e Digitalização. Desafios, Modelos de Oferta e Consumo”, com o objetivo de debater os desafios e o impacto do acesso cada vez mais transversal à tecnologia nas novas formas de consumo, bem como as oportunidades que este fenómeno oferece aos negócios.
O Congresso Nacional da GS1 Portugal contou com um painel composto por especialistas em diversas áreas que, ao longo de todo o dia, abordaram e discutiram a temática da transformação digital e o impacto desta revolução nas empresas e nos consumidores.
João de Castro Guimarães, diretor-executivo da GS1 Portugal – Codipor, faz um balanço bastante positivo deste Congresso. Para o responsável “a partilhar e a debater é que se consegue evoluir nas questões digitais. Foi com base nesta premissa que nos propusemos trazer a debate a digitalização, explorando este tema sob diversas perspetivas, ao longo de todo o dia. Reunimos um painel de especialistas que abordou temas como a transformação digital na sociedade e nas empresas, o papel do consumidor neste novo paradigma, os desafios dos novos modelos de oferta e consumo, a inteligência artificial e a capacitação nacional em cibersegurança”.
Durante a manhã, passou pelo palco do Grande Auditório do Campus da NOVA School of Business and Economics (SBE), em Carcavelos, Paulo Portas, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. Na sua intervenção, apresentou as chaves de interpretação para o mundo da globalização e da digitalização. Destacou que o mundo das empresas tecnológicas é um campeonato entre os Estados Unidos e a China, e alertou para o facto de a Europa ter sido ultrapassada no que diz respeito a investimento em I&D, surgindo em quarto lugar atrás do Japão, Estados Unidos e China. Neste âmbito, salientou que “a China foi o país que melhor surfou a globalização e que mais surpreendeu o mundo na economia digital, estando a preparar-se para ultrapassar os Estados Unidos no número de registo de patentes”, destacando a Huawei como sendo a empresa que, em todo o mundo, mais investe em I&D.
O ex-vice-primeiro-ministro alertou, também, que o comércio foi durante muitos anos o motor para o crescimento global, mas que deixará de ser, o que poderá ser critico. De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio, segundo o barómetro do 3º trimestre, regista uma tendência de crescimento do comércio internacional de 1,2%, muito abaixo do previsto.
Rogério Carapuça, presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), apresentou o tema “a revolução digital e como ela está a mudar o mundo”. O responsável salientou que a revolução digital está a mudar as nossas vidas, mas também os países, onde as empresas digitais têm impacto nas suas economias. A transformação digital impõe conceitos tais como techplomacy, os países têm que falar mais, não com outros países, mas com empresas digitais. “As empresas digitais mudam mais a vida das pessoas do que muitos países do mundo, com representação diplomática”, sublinhou Rogério Carapuça.
Seguiu-se a intervenção de Ana Paula Barbosa, diretora de retail services na Nielson Company, que abordou os “desafios dos novos modelos de oferta e consumo”. Segundo a especialista, o consumidor português está cada vez mais digital. Relativamente à experiência de compra destacou que “67% dos portugueses diz ter excesso de informação, 94% já fez, pelo menos uma vez, compras online, e 71% admite que, apesar de planear compras, adquire muitas vezes “por impulso” itens adicionais.
A fechar a manhã do Congresso, assistiu-se ao painel de debate sobre o tema central “O Consumidor no Centro da Transformação Digital”, que contou com a participação de Pedro Salter Cid, diretor-geral da Auchan Retail Portugal; Rui Miguel Nabeiro, administrador da Delta; Manuel Sousa Pinto, administrador da Sogrape Distribuição SA; José Fortunato, administrador da Sonae MC; António Casanova, CEO da Unilever, FIMA e Gallo e Luís Mesquita Dias, diretor-geral da Vitacress Portugal com moderação de Rosália Amorim, diretora do Dinheiro vivo.
Durante este painel, foram partilhadas várias experiências sobre o comportamento dos consumidores no canal digital. Pedro Salter Cid referiu que o modelo de “pick and pay é um ótimo modelo, mas ainda tem desafios, como a oferta muito reduzida”. Segundo José Fortunato, “o serviço de entregas rápidas continua a crescer, e muito”, devendo-se essencialmente à conveniência do serviço. Por seu lado, António Casanova considera que “o consumidor ainda não valoriza o pick and pay de verdade”, porque continua a considerar importante a experiência “física” de supermercado. Luís Mesquita Dias salientou que “o conceito de produtos já prontos está a crescer e temos beneficiado disso”, e que atualmente a Vitacress Portugal está a passar por uma grande evolução e a superar desafios, “passámos de uma empresa que produzia o complemento de uma salada para oferecer uma refeição completa ao consumidor”. Para Manuel Sousa Pinto, “o digital não permite apenas comprar vinho online. É vital também no âmbito da consulta. É frequente nas lojas ver pessoas com uma garrafa de vinho na mão, e a consultarem no telemóvel informação sobre o próprio vinho”. Para além disso, o recurso digital a informação permite também aceder a dados importantes para o consumidor e que influenciam o ato de compra, como sejam, por exemplo, os critérios de produção e distribuição sustentáveis, cada vez mais uma prioridade transversal a todas as empresas e setores.
Pedro Salter Cid destacou, ainda, a perspetiva social da digitalização, referindo que existe ainda uma parte da população que não está preparada para aderir ao digital, como alguns segmentos da população idosa, e tem de ser uma preocupação para os gestores.
A atração e o poder dos espaços físicos ainda têm um grande impacto em Portugal. “As lojas físicas não vão perder, é uma parte fundamental da experiência de compra”, refere Pedro Salter Cid. José Fortunato salienta que ainda há espaço para crescer, “há espaço para formatos mais pequenos e dentro da cidade”.
As sessões da tarde iniciaram-se com a intervenção de Paula Panarra, diretora-geral da Microsoft Portugal, que alertou para os “mitos e receios, ética e oportunidades” da Inteligência Artificial. A especialista destacou os benefícios da aplicação da Inteligência Artificial na gestão dos negócios no setor do retalho, salientando as suas vantagens em todos os processos, desde o contacto com o fornecedor até à experiência de compra do consumidor. Paula Panarra garantiu que a tecnologia pode otimizar os processos, ajudando a reduzir o trabalho manual, o erro e o tempo alocado a uma tarefa.
Outro tema abordado foi a “Capacitação Nacional em Cibersegurança”, com a intervenção do Tenente Coronel Rogério Raposo, coordenador de operações do Centro Nacional de Cibersegurança. O responsável salientou que a Cibersegurança é um fator de competitividade e de sobrevivência das empresas e, por isso, deve ser uma prioridade para os gestores: “A segurança digital das entidades públicas e privadas é uma prioridade. Sem um elevado nível de maturidade em Cibersegurança nas nossas organizações, não estão reunidas as condições para um efetivo e sustentável desenvolvimento económico”. O orador reforçou o papel do CNCS para apoiar as organizações disponibilizando um guia para a sua capacitação.
O 5º Congresso GS1 Portugal - Codipor teve o alto patrocínio da Presidência da República Portuguesa e contou com parceiros como: Saphety; Informa; Nova SBE; Central Cervejas e Bebidas; CHEP; Coca Cola; Generix; Marktest; Nestlé; Peugeot; Unilever; Vitacress; Checkpoint; Delta Cafés; Sociedade Ponto Verde; Sogrape e o apoio da DSPA e FIPA.