GfK - Tendências no consumo e concorrência na distribuição propiciam erosão do preço
O comportamento em valor, durante 2005, da linha castanha (-7%) contrasta com o da linha branca (1%), dos pequenos domésticos (5%), das telecomunicações (8%) e ainda mais com o da informática (17%). Uma evolução do mercado português que se afasta ligeiramente da tendência observada na Europa Ocidental. 2005 foi, assim, um ano em que o consumo se viu constrangido por diversas realidades. E o presente ano afigura-se com o prolongamento das manifestações do ano anterior. O crescimento está dependente do consumo, mas este deverá reduzir, segundo as projecções da GfK. Em Portugal a progressão ficará mesmo abaixo da dos parceiros europeus (0,8%).
A subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu teve impacto nas restantes taxas, bem como no crédito à habitação. O aumento do preço das matérias-primas, sobretudo do petróleo, levantou problemas para a indústria e afectou as suas margens. Mas a contínua abertura dos mercados internacionais e a concorrência na distribuição impediu, e vai continuar a impedir, a subida dos preços, que, por sua vez, são cada vez mais reduzidos.
Perante este cenário, a linha branca teve um ano negativo no total da Europa Ocidental (-1,1 por cento em volume e –1,2 por cento em valor), em que muito contribuiu a prestação da Alemanha (-4,2 por cento em volume e –4,1 por cento em valor) e do Reino Unido (-3,8 por cento em volume e –5,9 por cento em valor). O crescimento de Espanha continuou a destacar-se pela positiva, principalmente em valor (6%), graças, em larga medida, à alteração do mix de produto, acompanhada por um aumento do preço médio (4,3%).
No caso de Portugal, os crescimentos na linha branca foram modestos (1,8 por cento em volume e 0,6 por cento em valor) e o preço médio prosseguiu a sua queda (-1,1%), apesar do aumento de dois por cento no IVA. Para 2006, a GfK prevê que a linha branca cresça, no mercado português, de dois a quatro por cento em unidades e de um a três por cento em valor.
Contrariamente à linha branca, os pequenos domésticos continuaram a dar sinais positivos na Europa Ocidental, especialmente em unidades (4,6%). Em valor, as subidas foram mais moderadas (1,1%), em resultado da erosão do preço (-2,8%). Espanha (5,9 por cento em volume e 6,5 por cento em valor), Portugal (9,3 por cento em volume e 4,9 por cento em valor) e Itália (10,4 por cento em volume e cinco por cento em valor) foram os países com os crescimentos mais acentuados face a 2004. Inversamente, a Holanda e a Grã-Bretanha registaram quebras em valor (-2,1 e –4 por cento respectivamente), sendo a Holanda o único país que caiu também em unidades (-5,6%).
Relativamente aos preços médios, em 2005 verificou-se, de acordo com a GfK, uma tendência quase generalizada de quebra, exceptuando os casos de Espanha (0,6%), da Holanda (3,7%) e da Alemanha (2%). Na Europa, a queda do preço situou-se nos 2,8 por cento. As máquinas de café (expresso e filtro) foram, por sua vez, o produto com maior destaque, assinalando um crescimento de dois dígitos em valor. Este ano, o mercado do expresso e do filtro deverá, segundo espera a GfK, voltar a crescer. Prevê-se uma certa estabilização do preço médio no mercado, contrariando um pouco a tendência dos últimos anos, com as inovações a desempenharem um papel fundamental no sentido de acrescentar valor aos produtos.
Em 2006, a maior confiança dos portugueses na melhoria da situação económica do país poderá fazer com que o mercado de pequenos domésticos evolua favoravelmente, mas mesmo assim de forma moderada. A GfK prevê que o mercado português cresça entre seis a nove por cento em unidades e cinco a oito por cento em valor. A procura pelos preços baixos deverá, por sua vez, manter-se. Os grandes desafios no segmento dos pequenos domésticos prendem-se assim com o destaque que as marcas de primeiro preço estão a ganhar no mercado. Em 2005, as marcas próprias ou de primeiro preço representaram mesmo 21,3 por cento das vendas.
Se em Portugal, a linha castanha não teve uma performance assinalável, praticamente todos os restantes países da Europa cresceram acima dos cinco por cento, no ano passado. A Alemanha, depois de três anos com tendências negativas, registou uma das subidas mais elevadas da Europa (9%), semelhante à do Reino Unido, Áustria e Suécia e apenas suplantada pelos 11 por cento da Bélgica. Portugal, pelo contrário, elevou para três anos consecutivos a tendência negativa (-7%), partilhando o pior desempenho com a Holanda.
Em termos de produto, os LCD relegaram os CRT para os 22 por cento (47 por cento em 2004), passando dos 31 para os 56 por cento. Em Portugal, os dados da GfK mostram que os LCD já valem 48 por cento do mercado de televisão, quando em 2004 valiam apenas 22 por cento. A inclusão de alta definição tem, também, um peso assinalável no nosso país, superior mesmo ao que se vê na Europa. Em Dezembro de 2005, 68,7 por cento dos LCD vendidos em Portugal já estavam preparados para a alta definição, enquanto que na Europa representavam só 43,7 por cento. Os MP3, por seu turno, também se destacaram pelo crescimento acima dos 140 por cento em valor, não obstante o preço continuar a baixar (-23,4%). Tanto na Europa como em Portugal, foram os segmentos de preço até aos 49 euros que representaram a maioria das vendas (38,2 e 32,2 por cento, respectivamente). Mas enquanto na Europa os aparelhos acima dos 150 euros foram os segundos mais vendidos (20,1%), em Portugal não significaram mais que seis por cento, pelo que o mercado está mais concentrado na gama baixa.
Em 2006, os sistemas de navegação portátil deverão confirmar o ano passado, em que registaram um acréscimo de mais 181,4 por cento face ao ano anterior. Trata-se de um ano que, de acordo com as projecções da GfK, a tendência da electrónica de consumo se manterá positiva na Europa, entre dois a seis por cento, e negativa em Portugal, entre –4 e –2 por cento. LCD, MP3, leitores de vídeo portáteis, navegação portátil, novos formatos de câmaras de vídeo e de DVD e acessórios MP3 deverão ser os produtos em destaque, beneficiando do efeito do Campeonato do Mundo de Futebol da Alemanha.
Para a distribuição, 2005 foi um ano em que, apesar do clima económico globalmente sensível, a grande distribuição facturou mais 8,9 por cento que no ano anterior, segundo o Top dos 250 Maiores Retalhistas da Deloitte. Com 10 por cento das vendas mundiais, a Wal-Mart facturou três vezes mais que a segunda companhia, o Carrefour.
Esta evolução denota uma concentração das insígnias, de forma a serem lucrativas a curto prazo em novos mercados. Assim, a distribuição enfrenta o desafio de manter a rentabilidade nos mercados domésticos e crescer positivamente a nível internacional, o que pode significar que cada insígnia tenha de estar activa dentro de cada formato de loja e em diferentes áreas de negócio.
O ano de 2005 ficou marcado por um ganho forte das grandes insígnias na electrónica de consumo a nível europeu, e Portugal não foi excepção. O caso do MP3 é paradigmático, com os cinco principais retalhistas a deterem uma quota de mercado de 70 por cento.
As cadeias multi-especialistas já são, como adianta a GfK, líderes de mercado em electrónica de consumo (51%) e pequenos domésticos (43%), enquanto na linha branca as lojas independentes e associadas continuam a manter a primazia das vendas (51%).
Apesar do incremento das características técnicas dos produtos vendidos, no ano passado, a depreciação dos preços médios prosseguiu, com maior incidência nos produtos de electrónica de consumo, como consequência da maior importância das marcas próprias. Outras áreas conseguiram evidenciar alguma valorização, em virtude da alteração do mix de produto.
Estes dados foram apresentados pela GfK a uma plateia de profissionais da distribuição e fabricantes na sua 10.ª Conferência, realizada no passado mês de Março no Hotel Pestana Palace.
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