Quando iniciámos esta actividade, há cerca de 10 anos, tínhamos mais de 4.000 lojas de retalho em base de dados. Hoje, não chegam a 2.000 os registos de lojas de retalho especializado, contando já com o comércio associado e especialistas de cozinha. Destas empresas, a maioria são familiares e muitas ainda a cargo do fundador. Ainda se associa a gestão das empresas familiares a um modelo antiquado, esquecendo-se que a esmagadora maioria começa a sua existência dessa maneira. No entanto, segundo o guru americano John Davis, professor de Harvard e presidente da consultora Owner Managed Business Institute, “as empresas familiares podem ser imbatíveis quando bem administradas”.
Em Portugal, estima-se que entre 70 a 80 por cento das empresas sejam de natureza familiar e que contribuam para 60 por cento do emprego e 50 por cento do Produto Interno Bruto nacional. Os maiores desafios que se colocam às empresas familiares de hoje passam por, no entender da Associação Portuguesa de Empresas Familiares (APEF), profissionalizar a gestão, desenvolver um modelo de "corporate governance" eficaz, moderno e transparente e, finalmente, a sucessão de uma geração para a seguinte.
Se bem que alguns dos grandes grupos económicos de carácter familiar, como a Sonae e a Jerónimo Martins, já se encontram com o caminho da sucessão traçado, garantindo a continuidade, muitas outras empresas ainda não o fizeram. De acordo com um estudo da consultora PriceWaterhouseCoopers de 2008, 22 por cento das empresas nacionais iriam mudar de mãos nos cinco anos seguintes e algumas podiam até vir a ser compradas pelos seus próprios quadros. A realidade é que mais de metade das empresas familiares portuguesas não têm um plano de sucessão assegurado, apesar de 61 por cento afirmarem que já têm um sucessor escolhido. Na opinião de Jaime Esteves, coordenador do estudo para Portugal, a ausência de um plano de sucessão assegurado é preocupante, porque “a transmissão para a geração seguinte é um processo difícil que requer uma adequada planificação”.
Perante este cenário somos levados a questionar se estará o retalho electro preparado para esta transição e para assegurar a sua continuidade?
(...) Segundo o mesmo estudo da PriceWaterhouseCoopers, 70 por cento das empresas garantem já ter tomado pelo menos algumas medidas para assegurar a gestão dos assuntos da vida empresarial em caso de morte inesperada ou retirada dos seus actuais gestores ou principais proprietários. E é neste eixo que se enquadram organizações como a Electrilar, que tem como actual sócia-gerente Maria José Baptista, colaboradora da empresa há 29 anos e o “braço direito” do fundador Henrique Santana, actualmente reformado mas mantendo-se activo nas decisões.
No entanto, um em cada cinco inquiridos pela consultora reconhecem que não têm um plano estratégico. Isto apesar da maioria acreditar que tem empresas competitivas e preparadas para aproveitar novas oportunidades de mercado. Grande parte dos profissionais inquiridos pela Revismarket partilha desta opinião, pois muitos têm confiança na continuidade das suas empresas após o actual dirigente se retirar. Por exemplo, João Soares, filho da empresa Fernando Tendeiro em Faro, confessa que têm o maior cuidado para “não perder o barco”, mas acredita que, embora “atravessando tempos difíceis, vai haver sempre espaço no mercado para lojas com as estas características, onde se presta um serviço especializado e se acompanha os preços dos grandes espaços”. Já Belmiro Ribeiro tem plena confiança que, após a sua retirada, “o futuro da empresa continuará igual ou até melhor que actualmente”. (...)
Dificuldades e desafios que afectam as empresas
50 por cento dos inquiridos pela PriceWaterhouseCoopers afirmam que os principais desafios externos que mais vão afectar as suas empresas nos próximos anos prendem-se com a concorrência, seguidos das condições do mercado (48%) e das dificuldades nas exportações e nos mercado externos (30%). A subida dos preços das matérias primas (52%) e o controlo de custos e o cash flow, assim como as dificuldades em escolher os sucessores ou proceder à sucessão, na altura oportuna são os outros dos problemas apontados pela APEF. (...)
Papel da família na gestão pode ser fonte de discórdia ou de inspiração
O estudo da PriceWaterhouseCoopers conclui que a falta de consenso nas famílias pode implicar a “diminuição drástica da rentabilidade do negócio, a perda de controlo da empresa pela família ou, no pior dos casos, colocar a sobrevivência em perigo”. A APEF sublinha mesmo que as empresas familiares enfrentam problemas decorrentes da estreita ligação entre a vida familiar e a actividade empresarial, nomeadamente eventuais divergências de interesses entre membros da família. (...)
Curioso é o facto de que, a nível nacional, a principal fonte de conflito é o papel que alguns familiares devem ou não ter na gestão da empresa, estando a definição de estratégia em segundo lugar. Quem não se recorda de alguns exemplos de empresas de sucesso do sector que foram “engolidas” pela falta de entendimento ou desacordo de gestão entre familiares e acabaram por desaparecer?
Felizmente, para a maioria das empresas electro que responderam ao inquérito da Revismarket, parece que este problema não se coloca. A maior parte não reconhece dificuldades em entender-se com os familiares com que trabalham, sendo inclusive uma fonte de segurança, conforme afirma Rui Adão, ou um motivo de união, de acordo com Karim Sacoor, da Audilar. (...)
Apoio da família influencia o desenvolvimento de novos projectos?
O estudo da PriceWaterhouseCoopers revela ainda que a maioria das empresas considera estar bem posicionada para aproveitar as oportunidades e que são competitivas, citando a marca, o conhecimento do mercado e a aceitação no mesmo como os seus principais factores competitivos. Por sua vez, nas respostas dos profissionais que inquirimos, nota-se uma aposta na modernização das empresas electro que, nalguns casos, pode ser entendida como um impulso do envolvimento da nova geração.
João Pedro Fernandes abraçou o projecto de Internet da empresa fundada pelo avô, Armando Faria Fernandes. Também o site da empresa Adão Móveis já é da responsabilidade do filho Rui Pedro Adão, que assume também outros projectos de modernização da loja. De igual modo, na Trindade e Belo, a entrada do filho do fundador deu um impulso ao desenvolvimento de novas ideias, como o comércio online, novos conceitos de PVP, publicidade local, a inclusão de sistemas de crédito mais flexíveis e até mesmo a associação a uma central de compras e a ampliação dos horários de funcionamento da loja. Mas, caso o filho não tivesse decidido abraçar o projecto, o fundador teria estudado uma “possível admissão para este cargo”. Mário Rodrigues, da Avilectrolarsom, afirma mesmo que teria feito “tudo igual” caso tivesse um sucessor directo a trabalhar com ele. Henrique Santana considera mesmo que as empresas devem seguir o seu rumo próprio pois acredita que “ninguém é insubstituível”. (...)
Leia o artigo completo com testemunhos de profissionais de empresas familiares do sector na próxima edição impressa da Rm-Revismarket que chegará por estes dias.