“Crise” foi a palavra que mais vezes apareceu na imprensa escrita portuguesa em 2008 Segundo um estudo da Cision, entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro do ano que passou, a palavra “crise” foi repetida quase 91 mil vezes. Face ao último ano, o sentimento de confiança está, de facto, negativo e poucos se atrevem a antecipar crescimentos nos próximos 12 meses.«q»
Uma pesquisa da PricewaterhouseCoopers realizada junto de 1.124 CEO’s de 50 países confirma que apenas um em cada cinco mostra alguma confiança num crescimento neste ano. A palavra de ordem é, assim, de cautela, mas também de recusa da inércia e de se ficar “sentado” à espera que a tão falada crise passe. Para os inquiridos pela Revismarket, mais que a palavra mais vezes repetida na imprensa em 2008, crise é também sinónimo de oportunidade. Oportunidade para as empresas que souberem tirar partido destes tempos mais conturbados para se reestruturarem, repensarem o seu negócio e se fortalecerem para o futuro.
“40 por cento da riqueza mundial foi destruída no últimos cinco trimestres”. Foram estes os dados recentemente avançados por Stephen Schwarzman, “chairman” da Blackstone, no último Fórum de Davos. De facto, o panorama não é nada animador. As pressões nos mercados financeiros dos Estados Unidos da América (EUA), que começaram a surgir no Verão de 2007, transformaram-se numa crise financeira mundial de grandes proporções no Outono de 2008. Os mercados do crédito congelaram, os dos valores caíram e seguiram-se as insolvências e falências, que colocaram em perigo todo o sistema financeiro internacional.
Perante este cenário, os governos responderam com medidas para conter a crise e os bancos centrais começaram a injectar grandes volume de liquidez. Nos EUA, por exemplo, o governo aprovou um programa de resgate no valor de 700 mil milhões de dólares e adquiriu já acções de nove grandes bancos e de vários bancos regionais importantes. Ao mesmo tempo, os governos europeus anunciaram planos para injectar capital e adquirir activos bancários, no valor de 460 mil milhões de dólares, assim como garantias de dívida bancária no valor de dois mil milhões de dólares. E praticamente nenhum país escapou ao impacto da crise.
O Banco Mundial crê que, em meados do ano passado, iniciou uma pronunciada recessão na Europa e no Japão e mais recentemente nos EUA. Segundo as suas projecções, esta recessão vai continuar em 2009, com uma diminuição de 0,1 por cento no Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, por sua vez, prevê-se que o ritmo de crescimento chegue aos 4,5 por cento, o que representa uma diminuição face aos 7,9 por cento e aos 6,3 por cento registados, respectivamente, em 2007 e 2008. Globalmente, espera-se que o PIB mundial aumente apenas 0,9 por cento este ano, um ritmo que é inferior ao registado em 2001 e 1991 e certamente o mais baixo desde 1970, quando se deu início ao registo destes dados. O Banco Mundial antecipa, ainda, uma marcada desaceleração do comércio internacional em 2,1 por cento, pela primeira vez desde 1982 e acima da queda de 1,9 por cento registada em 1975.
Em Portugal, depois de um Orçamento de Estado com previsões mais optimistas, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, apresentou, já em Janeiro último, um orçamento suplementar que assume uma situação de recessão de 0,8 por cento e uma derrapagem do défice de 2,2 por cento do PIB para 3,9 por cento do PIB, valores que estão em linha com as projecções do Banco de Portugal, no seu Boletim Económico de Inverno 2008.
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As empresas inquiridas pela Revismarket antecipam um ano difícil, decisivo e com grandes desafios, em que as melhor estruturadas se vão consolidar. “Aquelas que se arrastam, sobretudo com problemas financeiros graves, vão encerrar”, sentencia Florbela Santos, gerente da Casa Libela/Tien21. As implicações de uma conjuntura económica incerta ao nível do consumo podem, de acordo com estes profissionais, afectar o mercado electro. “Estamos perante um mercado maduro, o que significa que o ano de 2009 será um ano de concorrência aguerrida, pela redução da procura”, analisa Carlos Maia, director geral da Staples Office Centre. «q»
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Com o aumento dos processos de falência e insolvência, aumenta o desemprego. No seu orçamento suplementar, o Ministério das Finanças já assumiu que, entre 2008 e 2009, Portugal vai ter mais 45 mil pessoas sem emprego. A taxa de desemprego sobe assim para 8,5 por cento e crescem de tom as notícias sobre reduções de postos de trabalho. Mais uma vez, o passado mês de Janeiro foi pródigo nestes anúncios. Uma semana apenas após o início do novo ano e já a Tyco Electronics suspendia 536 contratos de trabalho por seis meses. Seis dias depois era a Autoeuropa a despedir 250 pessoas e a Impala a encerrar três revistas, lançando no desemprego 16 trabalhadores. Também no sector dos media, a 16 de Janeiro, a Controlinvest anunciava o despedimento colectivo de 122 pessoas, despedimento este que acontecia também na Philips, dia 21 de Janeiro, com o anúncio do encerramento da fábrica de Ovar e a supressão de 70 postos de trabalho. E estes são apenas alguns exemplos.
A nível internacional, estes anúncios também se repetem. Nissan, Estee Lauder, Bombardier Aerospace, Time Warner, Liz Clairbone, Macy’s, Starbucks, Caterpillar, Quicksilver, Harley-Davidson, Microsoft, Eaton Corp., Sony, Financial Times, Boeing, TDK, Santander, Sanyo, Ford, Disney, Panasonic, NEC, Hitachi, General Motors, Home Depot, Philips, IBM, Toshiba, Kodak. Estas são apenas algumas das muitas empresas que anunciaram cortes em postos de trabalho. E são tão somente alguns dos anúncios feitos em Janeiro e nos primeiros dias de Fevereiro.
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Mas, se por um lado se espera uma quebra do consumo, resultante do aumento da taxa de desemprego, também se tem de ter em conta, como sublinha Carlos Silva, administrador da Prolar, que a redução das taxas de juro e dos preços dos combustíveis vai aumentar o rendimento disponível de uma parte das famílias. É também esta a análise de Margarida Caeiro, directora comercial da Flama, que não espera um ano fácil, num mercado onde a confiança dos consumidores será determinante. “Quando o mercado entra em recessão, a falta de previsões fiáveis resulta numa dificuldade acrescida. O problema principal é saber o que produzir e quanto”. Alexandre Carneiro, Consumer Key Account Manager da Nilfisk, concorda. “Devido à instabilidade do mercado, podemos errar nos ‘forecast’ criando depois problemas sérios de stocks”.«q»
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