A declaração do estado de emergência em Portugal, no dia 18 de março, trouxe consigo o encerramento das lojas físicas (à exceção de superfícies de distribuição alimentar e outras consideradas fundamentais para o funcionamento da sociedade), colocando à prova a resiliência dos retalhistas. Se para as marcas que já detinham uma pegada digital foi tempo de apostar mais nas suas plataformas online, para os pequenos retalhistas mais dedicados ao comércio local, foi tempo de repensar estratégias de atuação, por forma a garantir a sobrevivência dos seus negócios.
Segundo os dados do Yahoo Finance, desde que o estado de emergência foi declarado, verificou-se uma quebra significativa da atividade no retalho tradicional, com um decréscimo de 45%, com exceção feita para as superfícies de distribuição alimentar.
Impulso do e-commerce
O comércio online foi uma das consequências mais notórias dos efeitos da pandemia por todo o território europeu e Portugal não foi exceção. Contudo, é patente uma preocupação na manutenção do equilíbrio entre os espaços físicos e o digital, sendo igualmente necessária uma estreita colaboração entre o proprietário e inquilino para que os níveis de ocupação dos espaços físicos sejam mantidos.
Cristina Cristóvão, Agency Retail Director da Savills Portugal, afirma que, “em geral, as compras online no comércio alimentar e retalho aumentaram face a período pré-pandemia, mas não nos podemos esquecer que o online não tinha ainda uma representação muito significativa na maior parte da atividade retalhista em Portugal, sendo que a percentagem total das vendas no retalho se situa ainda abaixo dos 10%. Daí que esta subida não conseguiu compensar a perca de volume nas vendas físicas. Ainda assim, o aumento das vendas online obrigou retalhistas e fabricantes a fazer ajustamentos ao negócio, ao nível de cadeias de distribuição, preços, produto, reforço e preparação de equipas no atendimento telefónico, condições de segurança nas entregas e devoluções, etc. Esta capacidade de adaptação será fundamental para a recuperação do sector. A curto/médio, prazo sabemos que o retalho terá um impacto forte, mas é um sector com uma boa capacidade de adaptação. Do lado do consumidor, com o levantamento das restrições, as pessoas regressam lentamente às rotinas e assiste-se igualmente a uma adaptação nos padrões de consumo”.
Reestruturar o negócio
Num contexto europeu, a maioria dos retalhistas encarou esta pandemia como uma oportunidade para reestruturar o seu negócio. O armazenamento de produtos com consequências diretas no processo operacional das cadeias de distribuição deverá sofrer também reestruturações profundas e contará com a rápida adotação de medidas e tecnologias que permitam colmatar falhas disruptivas.
De acordo com Alexandra Portugal Gomes, Associate do Departamento de Research da Savills Portugal, “toda a cadeia de distribuição de produtos, desde o primeiro elo do processo até à entrega ao consumidor, está neste momento a ser repensada. A Covid-19 vai deixar-nos lições importantíssimas sobre o ponto vista comportamental do consumidor, que passam invariavelmente por questões como diferenciação do produto, tempos de entrega cada vez mais curtos, ‘customer services’ altamente personalizados e com sistemas de ‘tracking’ atualizados ‘on-point’, entre outros fatores”.