O mais recente relatório da Crédito y Caución analisa a situação atual da Argentina, que enfrenta uma profunda deterioração da sua economia, juntamente com o nono incumprimento no pagamento da sua dívida soberana.
A Argentina já enfrentava graves problemas económicos antes da pandemia de coronavírus. O país está em recessão desde 2018, com uma inflação superior a 50%, uma taxa de desemprego de 10% e um índice de pobreza que afeta mais de um terço da população. As medidas de distanciamento social e confinamento resultantes do surto de coronavírus pioraram a situação, com um impacto negativo em todas as indústrias, exceto na agricultura e no sector alimentar.
Prevê-se que o PIB contraia 8,8%, em 2020, e recupere apenas parcialmente no próximo ano. As exportações, o consumo privado e a produção industrial deverão contrair mais de 10% este ano. A queda nos investimentos será ainda mais intensa, chegando aos 18%. A estrutura da economia argentina torna-a extremamente vulnerável a choques externos devido à sua elevada dependência das exportações agrícolas, que representam mais de 50%, às suas altas necessidades de financiamento externo e ao longo histórico de incumprimento.
Dívida pública aumenta
Para limitar o impacto económico, o governo anunciou medidas fiscais no valor de 3,5% do PIB para proteger os sectores mais vulneráveis da população. A dívida pública da Argentina aumentou de 56% do PIB, em 2017, para quase 90%, em 2019, devido à contração da economia e à desvalorização da moeda.
O pagamento da dívida, financiado em 78% em moeda estrangeira e 49% por não residentes, tornou-se insustentável numa economia em contração, com uma moeda desvalorizada e um aumento da pobreza.
O acesso da Argentina ao mercado internacional de capitais esgotou-se. A falta de um acordo de reestruturação com os detentores de títulos internacionais levou a Argentina a deixar de cumprir os seus compromissos de pagamento, o que representa o seu nono incumprimento desde 1816. Os investidores não vão tomar medidas legais de imediato enquanto estejam a decorrer negociações com a Administração argentina. O prazo para a reestruturação da dívida foi prorrogado várias vezes, atualmente até 24 de julho. Embora pareça que a vontade de ambas as partes é chegar a um acordo, a Crédito y Caución não descarta um incumprimento desordenado que afetaria títulos no valor de 65 mil milhões de dólares.