O mercado português continua a ser favorável às contas do Grupo DIA. As vendas brutas sob insígnia cresceram 0,6% em Portugal, alcançando os 852,8 milhões de euros. Desempenho que não foi suficiente para compensar a queda de 3,6% do negócio em Espanha, o que levou a que a região ibérica tivesse retrocedido, como um todo, 3,3%. “2017 foi o primeiro ano em que não cumprimos os nossos objetivos, desde que iniciámos a cotação em bolsa, em 2011. Os resultados ficaram abaixo da previsão que demos em outubro, devido ao maior investimento efetuado nos preços em Espanha, o que impactou as nossas margens, e não pode ser compensado pelos esforços de poupança de custos e benefícios provenientes das nossas alianças comerciais”, analisa Ricardo Currás, administrador do Grupo DIA. “Com a exceção de Espanha, os outros países onde a DIA está presente (Brasil, Argentina e Portugal) alcançaram os objetivos estabelecidos para o ano”, assegura.
2017 foi, segundo o gestor, um ano de transformação e de fecho de ciclo. De 2013 a 2016, o grupo cresceu muito em função de várias aquisições, num processo que teve a sua conclusão no ano passado. “Somos líderes na proximidade, onde temos reinventado o conceito. Estou em crer que encontrámos uma fórmula que vai de encontro a essa visão, com 2018 a ser um ano de crescimento face ao que foi um ano de transformação”, perspetiva.
Globalmente, em 2017, a empresa registou vendas brutas sob insígnia de 10.334 milhões de euros, 1,5% mais em moeda local que em 2016. O avanço das vendas nos mercados emergentes foi de 10,8% (21,5% na Argentina e 14% no Brasil), o que mitigou a descida no mercado ibérico. Não obstante, no último trimestre, o desempenho desta região foi já positivo, segundo assegura o grupo retalhista. Na Argentina e no Brasil, continuou a ganhar quota de mercado, detendo agora, respetivamente, 14,1% e 7,8%.
O resultado líquido ajustado situou-se nos 271 milhões de euros, 19,2% menos que no ano anterior. O lucro líquido atribuído caiu 38%, para os 109.6 milhões de euros, devido aos resultados negativos das operações descontinuadas na China em 2017. Questionado sobre a sua eventual demissão face ao não cumprimento dos objetivos, Ricardo Currás nega essa possibilidade. “Não me demito apesar dos resultados menos favoráveis, perda de margens e redução dos dividendos. Na bolsa espanhola, somos os únicos retalhistas, logo a comparação é difícil. São mais de mil milhões de euros atribuídos aos nossos acionistas. Estou comprometido com o plano da companhia e o ano de 2017 reflete esse compromisso de ter o melhor preço do mercado. Estou muito satisfeito com o desempenho da empresa e acredito que o futuro vai ser brilhante”.
Considerando apenas as vendas numa base comparável, o desempenho do mercado ibérico foi já positivo, aumentando 0,3%. Como um todo, o crescimento numa base comparável foi de 3,4%. De acordo com o grupo, no quarto trimestre, as vendas comparáveis melhoraram tanto na Ibéria como nos mercados emergentes, respetivamente, 1,1% e 8,3%.
O grupo liderado por Ricardo Currás atribui a descida das vendas no seu mercado de origem à redução, em 3,9%, da superfície de venda. O volume de negócios ficou-se, assim, pelos 5.737 milhões de euros. Na segunda metade do ano, a decisão de baixar os preços permitiu, segundo a empresa, recuperar a competitividade na insígnia Dia, o que lhe possibilita “começar o ano com uma boa situação”. “Apesar da atrativa política de preços levada a cabo, a insígnia Dia conseguiu umas margens de EBITDA ajustado de mais de 8% em Espanha, enquanto que a La Plaza de Dia e a Clarel continuam a aumentar a sua margem operacional”, detalha o gestor. De referir que a Clarel obteve vendas brutas sob insígnia no valor de 358 milhões de euros, 2,6% mais que no exercício anterior.
O grupo destaca os projetos levados a cabo no ano passado, designadamente os avanços na sua digitalização, com programas como o Nexus by Dia, uma plataforma de inovação e procura de talento, que potenciou um aumento de 2,5% no investimento em tecnologia, assim como o reforço da aliança com a Amazon. Para além de Madrid, esta parceria já está presente, através do Amazon Prime Now, em Barcelona e Valência. As vendas online em Espanha alcançaram os 58 milhões de euros e, no final do ano, representavam já 10%. O objetivo para 2020 é crescer para os 120 milhões de euros. “A nossa ambição é liderar comércio eletrónico em Espanha e Portugal”, assevera mando Sanchéz, diretor executivo de Portugal, Corporativo e Serviços.
Ora, em Portugal, o grupo ainda não tem operação de e-commerce, o que poderá deixar de ser verdade em breve. De acordo com io responsável pelo mercado português, o grupo vai abrir novas lojas de todos os formatos em Portugal, estando para breve a inauguração oficial do espaço no Mercado de Santos, em Lisboa. Aquela que é a primeira loja Minipreço Family na capital já está em funcionamento. Este ponto de venda, onde também está um espaço Clarel, poderá ser a base da operação de e-commerce em do grupo em Portugal. “Mas não vamos adiantar datas nem prazos. 2018 será um ano de expansão, de vários formatos detidos e comercializados em Portugal”, confirma Amando Sanchéz.
O grupo reitera, então, os objetivos de se tornar no segundo retalhista de base alimentar no mercado ibérico, ao fortalecer a liderança no formato de discount de proximidade, participar na consolidação do mercado e liderar o espaço de e-commerce alimentar. Nos mercados emergentes, a meta é alcançar o terceiro lugar em cada uma das geografias. “2018 será um ano de recuperar margens, mas o compromisso de ter os melhores preços do mercado vai continuar a manter-se”, assegura.
Em Espanha, o grupo garante não pretender encerrar mais lojas Dia e, em contrapartida, irá abrir novos supermercados e lojas Clarel, com a tónica a estar colocada claramente no conceito de proximidade e nas suas marcas próprias, através das novas insígnias como a Dia Go. Ricardo Currás adianta que “as novas categorias destas lojas valem 15% a 20% das vendas e são um forte motivo de atração de clientes, que ali podem comprar o pequeno-almoço cerca de 50% mais barato que a média do mercado, com sumo, fruta e pastelaria”.
Em Portugal, que registou o segundo ano consecutivo de crescimento, o grupo tem fortes expectativas também na transformação do conceito de proximidade. Até porque, de acordo com Ricardo Currás, o conceito desenvolvido e testado em Portugal será a base da expansão Dia Go em Espanha. Para já, são sete as lojas Minipreço Express, conceito que vai crescer em 2018 através da abertura de novos pontos de venda e da transformação de outros. Porto é uma localização garantida por Amando Sanchéz, embora o grupo pense na sua expansão a nível nacional. “Vamos aumentar o investimento em Portugal, sobretudo para ampliar o número de espaços. Mais de 25 milhões de euros serão aplicados na remodelação do parque de lojas em Portugal, atingindo mais de 100 pontos de venda”.