29% dos portugueses considera que não tem dinheiro suficiente para uma vida digna, segundo o estudo Consumer Payment Report da Intrum Justitia. Um terço equaciona a hipótese de emigrar devido à situação financeira em Portugal.
Os resultados do estudo mostram que um terço dos consumidores europeus se encontra numa situação financeira incómoda, o que pode ameaçar a recuperação económica a longo prazo e criar tensão entre os diversos países. A razão dos problemas financeiros entre os consumidores europeus difere. O relatório mostra que os inquiridos dos países da europa do Norte (Alemanha, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Áustria e Suíça) estão numa situação financeira mais favorável do que a média europeia, nomeadamente no que respeita aos índices de desemprego. No entanto, não estão totalmente protegidos do sobreendividamento, uma vez que nestes países o acesso ao crédito é utilizado com mais frequência e acabam por entrar igualmente em dificuldade financeira.
Nos países do sul e da Europa de Leste (Itália, Espanha, Grécia, Hungria, Polónia, Estónia, República Checa e Eslováquia), os entrevistados, que enfrentam elevados índices de desemprego, indicam a falta de liquidez como a principal causa dos seus problemas financeiros. Para Luis Salvaterra, director geral da Intrum Justitia, “é preciso incutir nas gerações mais novas uma cultura de gestão financeira. Este trabalho deverá ser feito pelas escolas e pelas famílias para assim se alterarem os hábitos de pagamento a longo prazo. Em Portugal, por exemplo, através do nosso estudo, concluímos que 68% dos inquiridos dizem ensinar os seus filhos a lidar com o dinheiro. É um sinal que os comportamentos se começam a alterar, mas ainda há muito para fazer”.
No que respeita a Portugal, o novo estudo da Intrum Justitia revela um cenário preocupante, uma vez que as pessoas têm de ser capazes de gerir as suas finanças pessoais em paralelo com a actual crise financeira. Assim, quatro em cada dez portugueses afirmam ficar sem dinheiro depois de pagar as contas ou têm grande dificuldade em cumprir os pagamentos mensais.
A maioria dos inquiridos nacionais paga as suas contas a tempo e 86% concorda que o pagamento dentro do prazo estabelecido é normal e saudável. No entanto, algumas contas são pagas após o prazo contratado, nomeadamente multas de trânsito, facturas de telemóvel, Internet e despesas com a educação. Dentro das despesas pagas dentro do prazo indicado destaca-se a prestação da casa, os seguros e os impostos.
Ainda no que respeita ao nosso país, 39% afirma que não sobra dinheiro depois de pagarem as suas despesas, 38% tem grande dificuldade em pagar todas as contas do mês e 83% sabe exactamente quais as contas que recebe mensalmente.
Em Portugal, 56% dos inquiridos mencionaram que faziam uma reserva para despesas inesperadas e 30% poupa uma quantia fixa por mês. Estas poupanças conseguidas pelos portugueses resultam essencialmente da redução das despesas de lazer (91%) e vestuário (89%), bem como da diminuição das refeições feitas fora de casa (91%).
Dos entrevistados, 11% afirmou que habitualmente não pede dinheiro emprestado para pagar as suas contas. Quando há necessidade de recorrer a um empréstimo, utilizam principalmente o seu próprio banco, o reforço da utilização do cartão de crédito e a própria família. Neste universo, 66% concorda que muitas vezes não consegue cumprir os seus compromissos impedindo que o dinheiro circule e incremente a economia. “Para resolver a situação e devolver a confiança aos consumidores europeus têm de ser tomadas algumas medidas e a responsabilidade recai sobre as empresas, autoridades e a banca. Mais regulação e reforço de medidas têm de ser implementadas nos países do Sul da Europa de forma a assegurar que as empresas sejam capazes de prosseguir com os seus negócios de forma saudável e expandir as suas operações. Também os consumidores têm de ser capazes de confiar que a regulação irá ajudá-los a evitar situações de incumprimento”, acrescenta Luis Salvaterra.