A hipótese da Fnac sair de alguns mercados é avançada num artigo da consultora Euromonitor, que analisa os principais desafios da insígnia colocada em bolsa pelo Grupo PPR no início do ano.
A consultora questiona se a Fnac terá o mesmo destino da Surcouf, uma empresa também vendida pelo PPR, em 2009, ao Grupo Mulliez. “Provavelmente o desfecho da Fnac será distinto, até porque continua a apresentar lucros e dispõe de uma rede de mais de 160 lojas em sete países. Além disso, a direcção da Fnac tem vindo a implementar um conjunto de medidas de redução dos custos e melhoria da produtividade, plano este que tem um horizonte de concretização até 2015”, avança a Euromonitor.
Contudo, nota a consultora, desde o início do ano que a Fnac conta com menos um mercado, o italiano, onde tinha oito lojas. “Trajectória que poderá ser seguida em Portugal, mercado fortemente afectado pela crise económica”, lê-se no artigo.
Para já, a saída de mais mercados não passa mesmo de uma hipótese, mas certo que é que a primeira livraria na Europa tem visto o seu volume de negócios recuar cerca de dois por cento ao ano desde 2008, debatendo-se com uma crescente contracção do consumo e pelo acirrar da concorrência, nomeadamente dos “players” do comércio electrónico, como a Amazon e a Cdiscount, figuras de proa no mercado francês. A desmaterialização toca grande parte dos produtos onde a Fnac é especialista, particularmente os livros, DVD's e CD's, cada vez mais comprados através da Internet. Uma nota positiva é que o site da Fnac tem conseguido captar uma fatia deste negócio que se transfere para o online, se bem que ainda insuficiente para compensar a queda nas lojas físicas.
A Fnac não é a única “vítima” de um fenómeno que ganha corpo à escala mundial, com a disseminação dos “smartphones” e demais dispositivos móveis: o “showrooming”. Os clientes testam os novos produtos nas lojas mas fecham a compra na Internet a um preço mais baixo. Fenómeno que afecta vários retalhistas mundiais, da Fnac à HMV, no Reino Unido, Saturn, na Alemanha, e Best Buy, nos Estados Unidos. Esta última até lançou recentemente uma “ofensiva” contra este fenómeno, alinhando os seus preços com os do comércio electrónico.
Algumas soluções são, no entanto, apontadas pela Euromonitor para fazer regressar a Fnac ao caminho do crescimento. Em primeiro lugar, uma redução do parque de lojas e, ao mesmo tempo, um maior desenvolvimento de pontos de venda nos centros das cidades, mais pequenos e com uma gama de produtos mais restrita. Ao mesmo tempo, a aposta na abertura de espaços nas estações de comboios e aeroportos, com uma oferta de jornais e alguns produtos alimentares a fim de gerar tráfego. Uma medida implementada, com sucesso, pela livraria WH Smith no Reino Unido.
Outra das pistas avançadas pela consultora é a redução do catálogo de CD's e DVD's, que têm influenciado negativamente os resultados mas que ainda representam 20 por cento das vendas totais, e a necessidade de alinhar os preços entre os sites e as lojas, de forma a dar uma imagem uniforme em todos os canais.
A parceria com a fabricante de “e-readers” Kobo foi, no entender da Euromonitor, uma boa estratégia, por permitir à Fnac confiar o hardware a um especialista e concentrar-se nos conteúdos. Finalmente, o desenvolvimento do negócio nos mercados emergentes, como o Brasil, deverá constar da agenda.
O recente desfecho da história da Virgin Megastore dá conta de mais um duro golpe no sector dos bens culturais mas, para a Fnac, significa também o desaparecimento de um concorrente directo no seu mercado doméstico, que ainda representou um volume de negócios de cerca de 300 milhões de euros em 2012. Uma insígnia a menos no mercado francês, que pode dar à Fnac um balão de oxigénio temporário, com o aumento da frequentação e das vendas no primeiro trimestre. Contudo, a longo prazo, a Euromonitor considera que a Fnac deverá concentrar estrategicamente os seus recursos. Na Europa, as superfícies de vendas deverão ser reduzidas em benefício do comércio electrónico, com inegáveis custos sociais pela diminuição do pessoal afecto a cada loja. Mesmo que as vendas aumentem nos países emergentes, demorará vários anos até que compensem o enfraquecimento nos mercados “core” e requererá investimentos consideráveis a longo prazo. A Euromonitor termina o seu artigo lançando uma questão para reflexão: escolherá, a direcção da Fnac, o caminho do crescimento ou o da rentabilidade? O tempo o dirá.