A moral dos portugueses está bem negativa, segundo a última edição do estudo O Observador Cetelem. Este estado de ânimo reflecte-se na forma como consomem e nas suas intenções de compra para os próximos 12 meses. Electrodomésticos e electrónica de consumo reflectem um recuo na vontade de consumir face a 2011, enquanto a microinformática mantém o mesmo nível de intenções.
O comportamento dos consumidores portugueses, se bem que extremado, inscreve-se numa tendência que se manifesta a nível europeu. Os consumidores navegam num contexto de crise há mais de três anos e o seu moral desceu pelo quarto ano consecutivo, atingindo um ponto muito baixo (3,8 em 10). A Alemanha é a excepção e o único grande país da Europa Ocidental a ver o seu moral melhorar, pelo terceiro ano consecutivo, e a estabelecer um nível superior ao verificado antes da crise (6,2 em 10). A serenidade dos consumidores alemães contrasta vivamente com a posição das famílias espanholas, italianas e portuguesas, que apresentam classificações bem abaixo da média europeia: 3,1 em 10 em Espanha, 3,4 em Itália (- 0,6 pontos em relação ao ano anterior) e 2,6 em Portugal, tal como no ano passado. Os consumidores portugueses parecem estar particularmente cheios de dúvidas, atribuindo a classificação mais baixa de todos os países estudados pelo Observador. No final, a nota atribuída reflecte bem o descontentamento social num país onde a precaridade atinge quase 30 por cento da população.
Para 2012, as incertezas económicas são importantes e os consumidores farão várias escolhas para melhor gerir os seus orçamentos. Desiludidos com uma saída da crise económica que tarda em surgir, optam por um comportamento prudente, já que a retoma parece frágil ou tem sido repetidamente adiada, consumindo com moderação e aumentando a poupança. Oito dos países estudados pelo Observador Cetelem indicam uma vontade de aumentar as suas poupanças em 2012. As intenções de poupança estão claramente em alta na Alemanha (+ 5,1 pontos), em Portugal (+ 8,6 pontos), na Hungria (+ 6,5 pontos), na República Checa (+ 10 pontos) e na Roménia (+ 10,7 pontos). 83 por cento dos portugueses refere uma redução das suas despesas para fazer face à crise.
Do lado da despesa, a situação está mais equilibrada. Seis dos países estudados pelo Observador Cetelem (Alemanha, Espanha, França, Itália, Polónia e Eslováquia) indicam uma vontade de aumentar as despesas durante o ano de 2012, enquanto os consumidores dos outros seis países (Portugal, Reino Unido, Hungria, República Checa, Rússia e Roménia) indicam uma diminuição das suas intenções em relação ao ano anterior. Não obstante, a vontade de lazer continua a ser um elemento-chave, sobretudo num contexto lento. Por conseguinte, alerta o Observador Cetelem, para os industriais e para os distribuidores, o desafio será seduzir um cliente cada vez mais exigente e melhor informado. Os europeus colocam cinco produtos ou serviços no topo das suas intenções de compra para o próximo ano: viagens ou lazer (50 %), electrodomésticos (42 %), trabalhos de remodelação e renovação (37 %), mobiliário (36 %) e, finalmente, equipamentos de TV, Hi-Fi e vídeo (28 %).
Note-se, no entanto, que globalmente as intenções de compra são coerentes com as escolhas indicadas pelos consumidores em matéria de poupança ou de despesa. Deste modo, os espanhóis, os russos e os portugueses, que pretendem favorecer as poupanças durante os próximos doze meses, exprimem uma redução das intenções de compra na maior parte dos itens em relação ao ano anterior. Nos electrodomésticos, as intenções de compra dos portugueses caem de 37 para 32 por cento, na linha castanha reduzem de 25 para 22 por cento e na microinformática mantêm-se nos 12 por cento.