Durante o primeiro semestre de 2012, o mercado imobiliário português continuou a ser marcado pela conjuntura económica. Esta é a grande conclusão do estudo Marketbeat Outono, apresentado esta quarta-feira, dia 19 de Setembro, pela consultora imobiliária Cushman & Wakefield (C&W).
O impacto negativo das dificuldades que o país atravessa é transversal ao investimento imobiliário, à actividade de promoção e ao mercado ocupacional. A redução do rendimento disponível das famílias, a quebra no consumo privado, o aumento da taxa de desemprego e a ausência quase total de financiamento têm tido efeitos devastadores na actividade imobiliária. No sector do retalho, designadamente, ao longo do primeiro semestre continuaram a manifestar-se os efeitos da contínua quebra do poder de compra dos consumidores, que se repercutiu numa queda do volume de vendas e no acentuar do intervalo entre o retalho alimentar e o não alimentar. Os diferentes segmentos atingiram os valores mais baixos dos últimos sete anos.
Paralelamente, este sector padece também da sua própria maturidade. A evolução da oferta de conjuntos comerciais em Portugal continua a espelhar a tendência descendente iniciada em 2010 e este ano arrisca-se mesmo a ser o que apresenta menor crescimento absoluto desde os anos 90, de apenas 10.000 metros quadrados de área bruta locável (ABL). No primeiro semestre, abriu apenas um projecto, o do Multiusos Oriente, localizado em Loures, um retail park que conta com o Lidl como âncora. Muito provavelmente, até ao final do ano não deverão inaugurar projectos adicionais.
Em termos de oferta futura, até 2015 a C&W prevê oito projectos, num total de 221.000 metros quadrados de ABL. No entanto, mantém-se o elevado grau de incerteza, dado que apenas nove por cento está actualmente com a sua construção a decorrer. Entre estes, o destaque vai para o Évora Shopping, com uma ABL total de 16.100 metros quadrados, com abertura prevista para o Outono do ano que vem e cuja comercialização está já em curso e, segundo a C&W, a decorrer de forma positiva, tendo já asseguradas as lojas-âncora de moda e alimentar. "Facto que comprova que projectos bem localizados e dimensionados continuam a assegurar viabilidade", diz a consultora.
O comércio de rua continua a revelar um bom dinamismo e mantém-se a procura por espaços. Embora a sua revitalização tenha iniciado em Lisboa, nomeadamente na Avenida da Liberdade e no Chiado, este fenómeno tem vindo também a alastrar-se ao Porto. A reabilitação do Passeios dos Clérigos é o exemplo mais recente.
No sector dos escritórios, também se continua a manifestar a quebra na procura, movimento que se regista desde 2008. A procura é maioritariamente motivada por uma estratégia de redução dos custos, muitas vezes acompanhada de processos de redução da área ocupada face à menor necessidade em termos de recursos humanos. Já o mercado industrial e logístico tem também sido afectado pelo enquadramento económico. A elevada dependência do sector da logística provocou uma estagnação do mercado imobiliário industrial, que o esperado impulso positivo da subida das exportações ainda não conseguiu compensar. Na hotelaria, após uma melhoria em 2011, este ano trouxe quebras nos principais indicadores turísticos.