Em toda a Europa, praticamente todos os sectores de actividade estão a ser afectados no actual clima económico, através da espiral de dívidas incobráveis, destaca a Intrum Justitia no relatório que divulga neste mês de Novembro.
A grande maioria das empresas europeias, independentemente da sua dimensão ou sector de actividade, está a lutar para ter sucesso numa economia onde os consumidores estão relutantes em gastar dinheiro e onde os bancos não estão dispostos a emprestar, especialmente às PME, que contribuem com mais de metade do valor acrescentado criado pelas empresas em toda a UE. Em 2010 foram identificados 312 mil milhões de euros de incobráveis, o que representa 2,7 por cento de todas as transações. No entanto, este valor varia nos vários sectores de actividade, sendo o sector dos serviços profissionalizados (advocacia, projectistas, designers e arquitectos) um dos mais atingidos.
O não pagamento faz aumentar o preço dos bens e dos serviços. De acordo com o relatório da Intrum Justitia, se as empresas não tivessem tanto dinheiro empatado, fruto das dificuldades de cobrança, conseguiriam diminuir os preços e aumentar o seu investimento em pesquisa e desenvolvimento, tecnologia e recursos humanos.
De acordo com Luis Salvaterra, director geral da Intrum Justitia, "o nosso estudo indica que o cenário vai piorar. Os serviços profissionais, por exemplo, são frequentemente atingidos por cortes nos orçamentos dos seus clientes e esta situação está a verificar-se actualmente. Alguns sectores mostram-nos mesmo que vão ter um aumento da dívida no próximo ano” .
O mesmo responsável acredita ainda que “a desaceleração económica está a ter claramente um impacto sobre o atraso nos pagamentos em todas as empresas. Isso só aumenta a necessidade das empresas e do Estado criarem e sustentarem sistemas de recuperação de crédito, uma vez que o futuro das empresas e dos postos de trabalho dependerão da capacidade em manter um controloe firme dos custos através de uma eficiente gestão dos processos de crédito”.
Os serviços profissionalizados estão a sofrer, nos últimos tempos, um aumento da percentagem de incobráveis. De acordo com os últimos dados recolhidos, a percentagem de incobráveis situa-se nos 4,5 por cento. Para além disso, não se têm verificado melhorias no que respeita ao número de dias que em média necessitam para cobrar as suas facturas. Neste sector, os atrasos nos pagamentos são superiores no sector público e mais de 50 por cento das facturas são pagas fora dos prazos.
O sector da construção civil registou em toda a Europa um aumento de incobráveis de 3,6 por cento, no inquérito de 2011, um valor um pouco mais alto em comparação com o ano anterior que tinha registado 3,4 por cento. Cerca de 54 por cento das facturas são pagas fora dos prazos.
Na indústria transformadora europeia, a percentagem de incobráveis situa-se nos 2,5 por cento, ligeiramente abaixo da média da União Europeia que é de 2,7 por cento. Os maiores atrasos de pagamento verificam-se no sector público, com um atraso médio de 36 dias. Algumas empresas chegam a mencionar prazos de 180 dias, relativamente ao sector público. Embora cerca de 65 por cento das facturas sejam pagas dentro dos 30 dias, há um grande pessimismo face ao futuro, com 60 por cento dos entrevistados convencidos que a situação vai piorar nos próximos meses.
O sector dos media está um pouco pessimista quanto a sinais de melhoria nas economias nacionais, durante o próximo ano, onde a percentagem de incumprimentos é de 2,6 por cento e onde 49 por cento das facturas são pagas depois de 30 dias. Cerca de 65 por cento dos entrevistados acreditam que os riscos de pagamento vão permanecer no mesmo nível nos próximos meses. A maioria deles considera que os seus devedores estão a ter dificuldades financeiras e daí os atrasos.
Os serviços empresariais, que englobam empresas de marketing, agências de comunicação e agências de publicidade, têm uma percentagem de incobráveis de 2,3 por cento, um valor inferior ao verificado no sector dos serviços profissionais cujo valor de incobráveis se situa nos 4,5 por cento. Esta situação é justificada pela Intrum Justitia, uma vez que no caso dos serviços empresariais se verifica uma relação mais próxima com o cliente e que é, na maior parte das vezes, prolongada no tempo ao invés do que se verifica nos serviços profissionais.
Já o sector grossista e retalhista conseguiu reduzir o valor dos incobráveis no último ano, uma vez que assumiram uma atitude mais proactiva no que respeita aos pagamentos. A percentagem dos incobráveis ainda se situa nos 2,4 por cento e estão a ser pagas mais facturas dentro dos 30 dias, embora haja uma média de 18 dias de atraso para o pagamento no sector público.
A percentagem de incobráveis no sector da telecomunicações é de 2,7 por cento e os atrasos de pagamento por parte das empresas e dos consumidores diminuíram. Dos entrevistados, 55 por cento acreditam que os riscos de pagamento aumentarão nos próximos meses.
Nos transportes e logística, embora as facturas estejam a ser pagas um pouco mais rápido, os incobráveis aumentaram, situando-se agora nos 2,3 por cento face a 2,1 por cento em período homólogo.