Independentemente de todo o burburinho criado em torno do online, e do facto de muitos já terem preconizado o fim das lojas físicas, a verdade é que estas continuam a ser vistas pelo retalho como o seu principal canal de crescimento, segundo revela uma pesquisa do Australian Centre of Retail Studies, da Universidade de Monash, apresentada no âmbito do World Retail Congress (WRC), o grande evento mundial do sector, que juntou, de 19 a 21 de Setembro, os seus principais “players” em Londres.
A pesquisa, conduzida em Agosto junto de 219 executivos de topo do sector do retalho, revelou que estes não só planeiam aumentar a sua rede de lojas, tanto a nível local como internacional, mas também, e contrariando algumas das mais recentes tendências, fazer crescer a área actual dos seus pontos de venda. Nos próximos, 12 meses 63 por cento dos inquiridos espera abrir novas lojas no mercado doméstico e 52 por cento planeia aventurar-se além-fronteiras. Apenas 16 por cento destes executivos adiantou estar a pensar diminuir a área dos seus pontos de venda, contra os 40 por cento que pretende somar mais alguns metros quadrados.
O estudo indica assim que a loja física ainda está na base das estratégias de expansão, não obstante a aposta que está a ser feita no multicanal ou no omnicanal, como também é chamado. Os dados da pesquisa serviram de tópico para um debate realizado no primeiro dia do congresso, sobre como o multicanal está a afectar as redes de lojas físicas. “Uma das tendências que temos notado é que o aumento do retalho omnicanal está a criar a apetência por menos lojas, mas que estas sejam maiores, verdadeiras 'flahships'”, defendeu Peter Gold, consultor na CB Richard Ellis (CBRE). “Isto pode significar que alguns dos mercados secundários se irão ressentir fortemente, dado que o foco está colocado nas localizações 'prime'”.
Demasiadas lojas para poucos clientes
De facto, uma das notas dominantes no WRC é de que existem demasiadas lojas para poucos consumidores, aludindo ao facto do número de novos clientes não crescer desde o início da crise financeira. “É um mercado muito competitivo com demasiadas lojas”, sublinhou Philip Green, dono do Arcadia Group, de que fazem parte insígnias como a Topshop e a Topman, durante um debate realizado no segundo dia do congresso. “Nos últimos três anos, a Amazon arrecadou sozinha cerca de 30 mil milhões de dólares de um mercado que está estagnado a nível mundial”, reforçou Millard Drexler, CEO da J Crew. “A concorrência aumentou, mas existe menos criatividade, mais cópias de modelos e um foco exagerado no desconto”.
De acordo com Philip Green, num mundo ideal, os retalhistas teriam poucas mais muito boas lojas “flagship”, um menor número de lojas mais pequenas em localizações estratégicas e o negócio online. Ambos os intervenientes no debate concordaram que o desafio actual do retalho é continuar a investir, renovando a sua oferta para o consumidor e dando ao cliente uma razão para comprar nas suas insígnias. “Os consumidores sabem onde estão, o que mudou, têm a sua vida planeada e gerem rigorosamente os seus orçamentos. Os retalhistas têm de ser mais rápidos e inovadores do que nunca, apresentando novos produtos a cada quatro semanas”, defendeu Phillip Green.