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2010-2015: da crise à austeridade e a um novo padrão de consumo- Parte 1
2016-01-13

Os últimos cinco anos ficam inexoravelmente associados à crise económica global que despontou em 2008. O seu impacto foi significativo e transversal, a começar, desde logo, na redução do poder de compra dos consumidores. Despontava, assim, uma nova era no consumo, em que a procura pelos preços mais baixos se tornou na principal prioridade.

As promoções atingiram níveis sem precedentes. A relação entre fornecedores e distribuição endureceu o tom. Com a rentabilidade dos negócios afetada, a eficiência operacional ganhou uma importância rescente, motivando tanto novos investimentos, como a saída de ativos não estratégicos. Insígnias de elevada notoriedade desapareceram do mercado, outras, até aqui insuspeitadas, ganharam uma nova dimensão à boleia das novas preferências do consumidor que, principal vítima da crise, se tornou no principal catalisador da mudança, tanto destes cinco anos, como das tendências que vão moldar o futuro.

O antes e depois da crise

Para percebermos, efetivamente,toda a evolução dos últimos cinco anos temos de recuar outros tantos, até ao início da década, porque toda a história do período 2010-2015 começou a ser escrita bem mais cedo. Ou os últimos cinco anos não tivessem ficado associados à crise económica que despontou em 2008 e que teve impacto significativo no poder de compra dos consumidores. Período em que as tendências sociais, económicas e demográficas se alteraram, modificando, também, o modo de fazer os negócios. Mudanças na composição dos lares, o envelhecimento da população, o crescente interesse nas questões de saúde e o aumento da consciência ambiental. Tudo isto com impacto no mercado de retalho, motivando o crescimento de categorias como os frescos, os produtos orgânicos e as tecnologias mais eficientes do ponto de vista energético, por exemplo, assim como o interesse na conveniência, que incentivou a indústria a inovar e a oferecer novas soluções. Mudanças cujo agente catalisador foi, precisamente, o consumidor. Se é certo que os portugueses nunca souberam viver verdadeiramente sem ser em crise, muita coisa mudou na última década. Em 2005, os lares portugueses gastavam, em média, por compra, 18,5 euros em produtos de consumo corrente, segundo o Marktest Retail Index. Esse valor médio flutuava de acordo com o segmento de loja, pelo que num hipermercado, por exemplo, as famílias portuguesas gastavam, em média, 43,30 euros por compra, enquanto que numa mercearia tradicional o valor médio era de 9,30 euros. No último trimestre desse ano, contudo, o gasto médio por compra começou a diminuir. Baixou três euros, apesar do gasto médio mensal por família em bens de consumo corrente para o lar ter aumentado cinco euros e meio, face a igual período de 2004.

Oito anos mais tarde, em 2013,e com todas as aprendizagens trazidas pela crise, os dados do estudo Target Group Index da Marktest confirmavam uma retração do consumo num período de cinco anos. O consumidor, para além de responsável e vítima da quebra generalizada do consumo, tinha-se tornado mais ponderado e informado, tendo alterado os comportamentos de compra e a perceção perante a economia. Estas alterações destacavam-se, sobretudo, por uma gestão mais responsável do orçamento disponível, sempre com vista à contenção de gastos, existindo uma maior procura por ofertas especiais e artigos de baixo preço, uma maior adesão a vouchers e vales de desconto e a uma compra mais refletida. Ao mesmo tempo, estava também menos disponível para pagar mais por qualidade e restringia as compras por impulso.

No comércio, há também um antes e um depois da crise. Segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2005, o comércio mundial cresceu 6%, numa progressão mais rápida que a da riqueza, que tinha aumentado 3,3%. Quatro anos depois, em março de 2009, as vendas a retalho na Europa registavam a maior queda desde o início dos registos destes dados, em 1996. Descendo 4,6% em relação ao período homólogo, a contração superava o cenário já de si negativo antecipado pelos economistas, que apontavam uma redução de 2,6%.

2008 constituiu, pois, um ponto de viragem, com os consumidores a assumirem não ter os meios proporcionais às suas ambições.

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L.Branca/PAE

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