Quando em 2010 publicávamos, na primeira revista do ano, o artigo de destaque sobre as perspectivas dos profissionais do sector para o ano que se começava a desenrolar, eram muitos os que, num tom marcadamente de cautela, destacavam que a economia parecia começar a dar os seus primeiros indicadores positivos, avançando uma possível recuperação para o final do ano. 2010 era definido, por estes profissionais, como “difícil” e “incerto”, mas que lançaria as bases do futuro. A selecção natural do mercado parecia ter atingindo o seu auge em 2009, culminando em 2010, para apenas restarem as empresas mais fortes, ágeis e versáteis. Estaria assim cumprido o papel do chamado “ano zero”.
Volvidos mais de 12 meses desde que publicámos essa análise, o que mudou então?
Avaliando pelas respostas dos profissionais inquiridos pela Revismarket, parece que não mudou nada. Ou melhor, mantêm-se as mesmas preocupações, prioridades e receios identificados há um ano atrás, talvez ainda mais cristalizados por uma incerteza que se adensou e que trava estes profissionais a se aventurarem a lançar quaisquer previsões de longo prazo.
Para já, estes gestores traçam o cenário de um início do ano atípico, com os canais tradicionais (pequeno e grande retalho) em baixa. A juntar à real perda do poder de compra, Janeiro ficou afectado pela antecipação de compras efectuadas em Dezembro com vista a evitar o aumento do IVA. “Em Janeiro os negócios foram inferiores aos dos anos anteriores, notando-se uma preocupação no consumidor se deve ou não comprar, mesmo quando entra na loja para esse efeito”, detalha António Alves, sócio-gerente da Telereparadora. “Clientes nossos, que são retalhistas, estão a queixar-se de redução do tráfego das lojas”, confirma Jorge Custódio, administrador da Lifetech. Nota-se claramente uma desaceleração do consumo, confirmada pelos primeiros dados de 2011 da GfK, que constata uma perda de sete por cento em termos homólogos, assinalando a pior tendência dos últimos 13 meses.
O nervosismo está instalado.
Nunca, como agora, pairou sobre a mente dos portugueses o “fantasma” do Fundo Monetário Internacional, um espectro que começou com as suas aparições constantes já ia bem decorrido o ano de 2010, motivando uma política de austeridade que se fez e faz sentir, com uma particular agudeza, nos bolsos dos portugueses. E levando a um constante clima de tensão política que culmina agora no pedido de demissão do Primeiro-Ministro, José Sócrates. “A situação política nacional tem contribuído de forma decisiva para a degradação da economia e, infelizmente, não se perspectivam alterações significativas na nossa classe política. Enquanto continuarmos a ter como agentes políticos pessoas que, na sua maioria, nunca tiveram um emprego na vida, a situação continuará a degradar-se,” defende Luís Vasco Cunha, administrador da Susiarte/expert. Nesta medida, se o panorama já se afigurava difícil em 2010, pior parece ter ficado em 2011. O que podemos então esperar deste novo ano? (...)
Controlar os custos
A filosofia de gestão milimétrica dos custos, de forma a garantir a rentabilidade, é transversal a todas as áreas, perfis e dimensão dos negócios. Em 2010, aquando da publicação da primeira revista do ano, o controlo apertado era apontado como uma das medidas mais importantes a implementar e mantém-se como prioridade em 2011. 44 por cento dos profissionais inquiridos pela Rm enumeram-no como a primeira medida para enfrentar 2011, em nome da saúde financeira das empresas, sobretudo quando se antecipa um agravamento das condições de financiamento. (...)
Mas nem só de cortes se faz a estratégia destas empresas. Tanto mais que, nestes momentos, existe o risco para tomar medidas de curto prazo que poderão não ser as mais adequadas. “Nenhum grande comandante se destaca quando o navio está no porto, mas sim quando enfrenta tempestades. Como tal, estamos em época propícia ao desenvolvimento das capacidades de cada um e das respectivas organizações”, alerta Luís Vasco Cunha. “Como 2011 será mais um ano de dificuldades, teremos que saber encontrar os antibióticos adequados à cura das doenças que forem aparecendo, sem esquecer que é essencial tomar vitaminas para fortalecer a estrutura. Temos de continuar o processo de contenção de custos, sem descurar a aplicação de algumas medidas que funcionem em contraponto, de modo a garantir a estabilidade emocional das organizações. Temos de cortar, mas também de coser”. (...)
Novas estratégias e oportunidades de negócio
Numa estratégia de antecipação, as empresas procuram ainda encontrar novas oportunidades de negócio, que possam compensar a eventual quebra nas vendas a retalho. A Staples, por exemplo, está a reforçar a área de negócio Delivery e expandir os serviços Easy Tech e Easy Solutions. “A nossa sugestão é que as empresas devem procurar responder com soluções ‘chave na mão’, sem reduzir a qualidade dos produtos e serviços”, comenta Carlos Maia, director geral da insígnia. (...)
“Pressinto que os colectivos irão finalmente assumir o seu inevitável lugar, pois o individualismo dificilmente poderá contornar as dificuldades que se irão deparar nos próximos tempos”, confessa João Medeiros, director geral da Best Sell. “Acredito que o associativismo será o caminho mais assertivo e talvez inevitável na futura sociedade, independentemente de que área estejamos a falar, pelo que há que exortar em cada um de nós a capacidade intrínseca de combatividade e excelência que sempre demonstrámos além-fronteiras. Não há mais lugar a “pousios” ou remarcações de históricos menos bem sucedidos. 2011 irá exigir, a meu ver, toques a rebate e injecções de adrenalina, que incorporem valores essenciais como a honestidade, responsabilidade e muita solidariedade”. (...)
Leia o artigo de destaque desenvolvido na edição do primeiro trimestre de 2011 que chegará brevemente