As dificuldades financeiras e o atraso de pagamento intencional são as principais razões que levam à dilação de pagamentos por parte das empresas. O pagamento de facturas na Europa efectua-se a uma média de 55,5 dias. O Estado português demora mais de 137,8 dias a liquidar as facturas.
Por outro lado, não fazer acções de cobrança imediatas tem um custo muito elevado que se reflecte no crescimento das próprias empresas. Estas são algumas das conclusões do encontro-debate “Pagar na Hora – Prós e Contras”, organizado ontem, dia 8 de Outubro, pela Intrum Justitia, onde foi ainda analisado o European Payment Índex 2008 (EPI) aos balanços das empresas inquiridas.
De acordo com Ricardo Reis, professor da Universidade Católica de Lisboa, que apresentou as principais conclusões, o atraso na liquidação das facturas é um dos grandes responsáveis pelos próprios atrasos de pagamento por parte das empresas, sendo que as que levam mais tempo a receber são, por consequência, as que menos investem. Assim, é absolutamente necessária a implementação de actividades de gestão de crédito para combater os efeitos da crise no crédito hipotecário de alto risco e a alta dos preços do petróleo e dos alimentos.
No encontro foram ainda abordadas as principais conclusões do European Payment Índex, um estudo que revela o risco de pagamento em vários países da Europa. Em 2007, a comunidade empresarial europeia teve um custo adicional de 25 mil milhões de euros devido aos atrasos de pagamentos. Um valor que chega a ser equivalente ao PIB da Bélgica. Os países do Sul da Europa lideram os pagadores mais faltosos, enquanto que os países escandinavos são os melhores pagadores.
A Intrum Justitia receia que a soma de facturas pendentes na Europa aumente em resposta à diminuição na concessão de empréstimos e da alta dos preços dos alimentos e do petróleo. “Este é um desenvolvimento preocupante”, afirma Luís Salvaterra, director geral da Intrum Justitia Ibérica. “Este comportamento de mau pagador tem um forte efeito inibidor na economia europeia.”
O número médio de dias para o pagamento de facturas baixou na Europa de 58,6, em 2007, para 55,5, em 2008. Contudo, a percentagem de facturas dadas como incobráveis atingiu o nível mais alto este ano, dois por cento, em comparação com 1,9 por cento, em 2007. Mais uma vez, os governos provaram ser os piores pagadores, ao levarem uma média de 65 dias para pagar. A comunidade empresarial leva 55 dias e os consumidores privados 40 dias.
A razão mais importante para o não pagamento ou para um pagamento tardio deve-se a rotinas inadequadas ou à falta de competências na comunidade empresarial no que diz respeito à gestão de crédito e cobranças. Luís Salvaterra considera tal comportamento incompreensível. “As empresas estão cegas com a boa situação económica dos últimos anos. Elas estão bem e com bons lucros. Por outro lado, consideram embaraçoso dirigirem-se aos clientes e solicitarem o pagamento. As empresas esquecem-se, no entanto, que a conjuntura mudou, os bancos estão a dificultar a obtenção de crédito e a aumentar as despesas associadas aos mesmos”.
55 por cento das empresas inquiridas acreditam que os riscos de pagamento vão permanecer inalterados, enquanto que 30 por cento afirmam que será difícil receber os pagamentos em atraso. As empresas na Hungria, Irlanda, Espanha e Portugal são as mais pessimistas.
Grécia, Chipre e Portugal são os países onde o risco de pagamento é maior, enquanto que os países escandinavos apresentam um risco menor. O tempo para pagamento aumentou ligeiramente na Suíça, Espanha, Itália, Irlanda e França, enquanto que no Reino Unido permaneceu inalterado.
No que diz respeito a Portugal, o risco de pagamento aumentou comparativamente com 2007. Embora o prazo médio de pagamentos tenha diminuído ligeiramente, o valor dos incobráveis aumentou de 2,5 para 2,7 por cento sobre o valor das vendas. A Intrum Justitia considera crucial que a comunidade empresarial tenha uma visão mais ampla ao implementar a gestão de crédito. Não se trata de contactar o cliente que paga mais tarde, mas sim analisar os possíveis riscos, verificar o status financeiro dos consumidores e definir políticas de crédito correctas.
De acordo com Luís Salvaterra, “apesar de uma ligeira melhoria, Portugal continua com prazos médios de pagamentos muito superiores à média europeia. O Estado tarda em média a pagar, o dobro de dias que os seus congéneres europeus. Esta situação tem efeitos dramáticos no desenvolvimento da economia, nomeadamente pondo em risco a sobrevivência das pequenas e médias empresas”. O dinheiro das empresas é “congelado” em facturas pendentes, pedir emprestado aos bancos é cada vez mais difícil e caro e as empresas vão agonizando. A solução passa por uma boa gestão de crédito e cobranças.
A Intrum Justitia reitera uma mudança na cultura. Os princípios dos países escandinavos devem servir de exemplo. Nestes países, uma média de três em quatro facturas são pagas a tempo e apenas um por cento de todas as facturas ficam por pagar.