O estudo “ManpowerGroup Employment Outlook Survey” para o terceiro trimestre espelha o impacto da pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho em Portugal.
Os empregadores portugueses revelam intenções de contratação muito pessimistas, com a projeção para a criação líquida de emprego, entre julho e setembro, a situar-se em -9%, a previsão mais baixa desde o início do estudo, em 2017.
As expetativas de contratação caem, assim, 22 pontos percentuais face ao trimestre anterior (cujos inquéritos foram realizados antes da emergência da Covid-19) e 21 pontos em relação ao período homólogo de 2019.
Num universo de 387 empresas portuguesas inquiridas, 19% dos empregadores antecipam uma diminuição da força de trabalho no terceiro trimestre, 62% não avança qualquer alteração e apenas 10% antevê um aumento das intenções de contratação. “À crise de saúde da Covid-19 uniu-se uma crise de âmbito económico e social. As consequências, ao nível da destruição de emprego, já se estão a sentir de forma considerável, com o número de desempregados a aumentar 22,1%, em abril, face ao mesmo período de 2019, segundo dados do IEFP. Analisando em termos prospetivos, o sentimento que recolhemos junto dos empregadores não altera este cenário, pelo que prevemos uma recuperação lenta do emprego”, afirma Rui Teixeira, Chief Operations Officer da ManpowerGroup Portugal.
“Neste contexto, é fundamental atuar para proteger e fomentar a atividade económica e os postos de trabalho. Para isso, devemos reforçar a capacidade de resposta das empresas e promover um regresso a um ‘novo normal’, tão rápido, mas também tão seguro quanto possível. A confiança, por parte de trabalhadores, clientes e empresários, exige uma cooperação a larga escala, para identificar e generalizar as medidas que permitirão garantir a segurança de todos, nos diferentes contextos da reativação e, muito especialmente, no regresso ao trabalho. Estou convicto de que o sector dos recursos humanos (RH) joga aqui um papel fundamental, pela sua abrangência e transversalidade. Nesse sentido, a aliança Back to Work Safely, a que nos unimos junto com os principais líderes do sector de RH, irá seguramente contribuir de forma significativa para ajudar empresas e trabalhadores a realizar com êxito esta transição”, conclui.
Restauração e hotelaria registam a maior contração
Durante o próximo trimestre, é esperada uma redução da força de trabalho nos sete sectores de atividade analisados. A restauração e a hotelaria antecipam a maior contração, com uma projeção para a criação líquida de emprego de -29%, o que representa um recuo de 50 e 54 pontos percentuais face às estimativas do trimestre anterior e do período homólogo de 2019, respetivamente.
Os empregadores do sector das finanças e serviços também relatam planos de contratação pessimistas, com uma projeção de -19%, o que significa uma queda de 47 pontos face ao mesmo período do ano passado.
O pessimismo sente-se, igualmente, nos sectores da indústria e do comércio grossista e retalhista, com projeções de contratação de -12% e -10%, respetivamente. Já na construção, os empregadores avançam intenções de contratação pouco animadoras, com uma projeção de -6%, enquanto nos sectores de outras atividades de produção e outras atividades de serviços domina a incerteza, com perspetivas de -1% e -2%.
Por oposição, e com perspetivas mais otimistas, nestes dois últimos sectores destacam-se o subsetor agrícola, com uma projeção de +2%, e o subsector público, com uma projeção de +11%, a mais elevada de todos os sectores analisados.
Região Norte e médias empresas são as mais pessimistas
Em termos geográficos, os empregadores das três regiões antecipam uma diminuição na sua força de trabalho. A região Norte deverá registar o mercado de trabalho mais fraco, com uma projeção para a criação líquida de emprego de -9%, igual à projeção nacional, o que significa menos 19 pontos percentuais do que no período homólogo do ano passado.
No Centro, os empregadores antecipam uma atividade lenta de contratação, com uma projeção de -8%, que representa um recuo de 22 pontos em relação ao período homólogo de 2019.
Já no Sul, a perspetiva de contratações é de -4%, um declínio de 19 pontos face às estimativas do trimestre anterior e de 14 pontos relativamente ao período homólogo do ano passado.
No que diz respeito ao tamanho das empresas, as quatro categorias analisadas esperam reduzir a sua força de trabalho durante o próximo trimestre. O mercado de trabalho mais fraco é antecipado pelos empregadores das médias empresas, que relatam uma projeção para a criação líquida de emprego de -17%, traduzindo uma queda acentuada de 31 pontos percentuais face ao período homólogo de 2019.
As microempresas relatam, igualmente, planos de contratação pessimistas, com uma projeção de -10%, enquanto as perspetivas das pequenas e grandes empresas ficam pelos -5%, um valor também pouco encorajador.
Intenções globais de contratação em queda
A nível global, os empregadores de 35 dos 43 países e territórios analisados esperam reduzir a sua força de trabalho, no período de julho a setembro. Apenas sete países esperam aumentar as contratações e em um dos países não é esperada qualquer alteração.
Na região EMEA, 24 dos 26 países analisados anunciam uma diminuição na sua força de trabalho, no próximo trimestre, com os empregadores de três das quatro maiores economias europeias a preverem uma redução nas contratações. O Reino Unido apresenta as perspetivas mais sombrias, com os empregadores a anteciparem o mercado de trabalho mais fraco desde o início do estudo, em 1992, e traduzindo quebras importantes nos sectores de transportes, logística e comunicações, finanças e serviços e indústria. Em França, os empregadores antecipam também o ritmo mais fraco de contratação desde que se realiza o estudo, sendo o sector da restauração e hotelaria o mais afetado. Em Itália, o comportamento é similar, e observamos as projeções mais fracas em seis anos, com intenções de contratação fortemente reduzidas nos sectores da restauração e hotelaria e das finanças e serviços.
Já na vizinha Espanha, com uma projeção de -12%, prevê-se uma redução da força de trabalho em todos os sectores de atividade, durante o período de julho a setembro, com acentuadas quedas nos planos de contratação dos sectores de restauração e hotelaria e comércio grossista e retalhista.
Em ligeiro contraciclo está a Alemanha, onde a projeção de +1% traduz um ritmo lento de contratações e perspetivas um pouco mais animadoras nos sectores da construção, finanças e Sserviços e outros serviços.