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Abril confirma redução sem precedentes nos pagamentos
2020-06-03

Em abril de 2020, com o estado de emergência e as medidas de confinamento generalizado a vigorarem ao longo de todo o mês, em resultado da pandemia de Covid-19, confirmou-se a redução “sem precedentes” na utilização dos cheques e das operações com cartão.

Se, em março, já tinha ocorrido um forte decréscimo nas operações com cartão, ao longo do mês abril, registou-se, para além de um reforço desta tendência, uma descida significativa e transversal nos restantes instrumentos de pagamento, com destaque para os cheques.

Em abril, foram efetuados cerca de 1,2 milhões de pagamentos com cheques, no valor de 4,1 mil milhões de euros, o que corresponde a reduções de 44,9% em número e de 47,9% em valor relativamente a igual período do ano anterior. “A redução drástica da atividade económica e a preferência dos agentes económicos pela utilização de instrumentos de pagamento que exijam um menor contacto físico contribuíram para estes números, que correspondem à quantidade e ao valor mais baixos registados, ao longo dos últimos 20 anos, nas operações com cheques”, pode ler-se no comunicado do Banco de Portugal.

Pese embora o decréscimo na utilização dos cheques, aumentou a percentagem de cheques devolvidos por insuficiência de provisão: 0,48% em número e 0,41% em valor, o que compara com taxas significativamente mais baixas no período pré-pandemia (em fevereiro, 0,27% em número e 0,23% em valor).

Em abril, as operações com cartão de pagamento decresceram 42,9% em número e 28,8% em valor face ao mesmo período do ano passado. Foram realizados 114,7 milhões de operações, no valor de 7,3 mil milhões de euros. Esta evolução negativa deveu-se, essencialmente, à forte redução nos levantamentos, compras e operações de baixo valor (como portagens e parques de estacionamento). Para encontrar um número mais baixo de operações com cartão, é preciso recuar 11 anos, até fevereiro de 2009, e, em termos de valor, até fevereiro de 2015.

Os levantamentos de numerário diminuíram, em termos homólogos, 51,9% em número e 40,3% em valor, tendo sido efetuados, em abril, apenas 17,2 milhões de levantamentos no valor de 1,5 mil milhões de euros. Ao longo dos últimos 20 anos, não existe registo de um número tão reduzido de levantamentos de numerário.

Compras também descem

Em abril, as compras efetuadas decresceram de forma igualmente significativa relativamente ao período homólogo: 42,5% em número e 39,7% em valor, para 60,9 milhões de operações (número mais baixo desde fevereiro de 2014), no valor de 2,4 mil milhões de euros (valor mais baixo desde fevereiro de 2015).

Em média, os portugueses levantaram por dia menos 32,8 milhões de euros e efetuaram menos 52,8 milhões de euros de compras, comparando com o mesmo período de 2019.

Os sectores de atividade com maior proporção de compras com cartão registaram reduções significativas nestas operações, que variaram entre 16% no comércio a retalho e 97% no alojamento. Em termos absolutos, os sectores mais afetados foram a restauração e o comércio a retalho, com reduções de, respetivamente, 354,4 milhões de euros e 316,3 milhões de euros face ao transacionado com cartão no período homólogo.

Impactos no comércio

Uma análise detalhada ao setor do comércio a retalho, por comparação a abril de 2019, revela que as compras com cartão subiram 209% na aquisição de eletrodomésticos (mais 44,7 milhões de euros) e 109% no subsector das frutas e produtos hortícolas (um aumento de 6,6 milhões de euros). “Em particular, a evolução verificada no sector das compras de eletrodomésticos terá resultado, numa primeira fase, de um crescimento na aquisição de equipamentos domésticos para apoio ao período de confinamento, como sejam frigoríficos e aspiradores, e, numa segunda fase, de computadores e impressoras, para permitir a realização de teletrabalho e o acesso ao ensino em casa”, diz o banco central.

Em termos absolutos, a maior subida nas compras com cartão ocorreu nos supermercados e hipermercados (mais 144,9 milhões de euros) e, em sentido oposto, a maior redução verificou-se no subsector do combustível para veículos a motor (menos 67,6 milhões de euros).

Com o encerramento das lojas físicas, o subsector do vestuário para adultos – que, em abril de 2019, era o segundo mais relevante no comércio a retalho – registou em abril de 2020 uma quebra de 99%, passando de 155,3 milhões de euros para apenas 1,6 milhões de euros.

Os fortes impactos negativos da Covid-19 no turismo foram evidentes em abril. Com a suspensão dos voos e o fecho das fronteiras, o turismo quase paralisou: os levantamentos efetuados por estrangeiros em Portugal caíram 67% em número e 62,3% em valor (menos 743 mil operações no valor de 80,9 milhões de euros), em comparação com abril do ano passado. No que se refere às compras, a queda foi ainda mais acentuada: 86,6% em número e 87% em valor (menos 6,1 milhões de compras no valor de 355,7 milhões de euros).

Online e contactless em crescimento

Apesar da redução generalizada na utilização dos cartões de pagamento, as compras online e as compras com recurso à tecnologia contactless continuaram a registar crescimentos significativos em abril.

As compras com a tecnologia contactless cresceram, comparativamente com o período homólogo, 44% em número e 123% em valor. O valor médio destas operações passou de 17,8 euros, em março, para 21,3 euros, em abril, em resultado do aumento do limite máximo dos pagamentos contactless para 50 euros.

O peso das compras com a tecnologia contactless, no total de compras com cartão, subiu também de forma expressiva: em fevereiro, 11,6% das compras com cartão foram efetuadas com tecnologia contactless e, em abril, 17,4%. As compras com a tecnologia contactless foram realizadas maioritariamente no sector do comércio a retalho (81,2% em número e 85,5% em valor).

No que se refere às compras online, manteve-se a tendência verificada no período pré-pandemia para as compras online em sites de comerciantes portugueses, as quais aumentaram 21% em quantidade e 53% em valor, em abril, face ao período homólogo. Já as compras efetuadas em sites estrangeiros reduziram 18% em valor e cresceram 10% em quantidade.

Em termos globais, o peso relativo das compras online no total de compras efetuadas com cartão passou de 7% em número e de 8,1% em valor, em fevereiro, para 11,2% e 10,8%, respetivamente, em abril.


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L.Branca/PAE

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