A Fagor arrisca-se a ter de declarar a insolvência, figura jurídica que em Espanha tem a designação de concurso de credores, após esta quarta-feira, dia 30 de Outubro, a Corporación Mondragón ter considerado inviável a proposta apresentada pela empresa no sentido da sua reestruturação e financiamento.
O Conselho Geral da Corporación Mondragón, que já tinha injectado 70 milhões de euros na cooperativa no passado mês de Maio, considerou, de forma unânime, que o projecto não responde às necessidades do mercado e que os recursos financeiros exigidos “não serviriam para garantir o seu futuro empresarial”.
O grupo recusou, assim, continuar a financiar a Fagor Electrodomésticos - o plano de viabilidade da Fagor implicaria uma injecção financeira no valor de 170 milhões de euros - que já manifestou que a sua entrada numa situação de concurso de credores levaria ao “desaparecimento de todas as actividades da empresa (13 fábricas, cinco das quais em Espanha) e de todos os seus postos de trabalho (num total de 5.600), sem solução de continuidade”. A comunicação, tornada pública pela direcção da cooperativa e pelo Conselho Social que representa os sócios-trabalhadores, pretende chamar a atenção da Corporación Mondragón e das instituições públicas, às quais a Fagor Electrodomésticos se tinha dirigido inicialmente na busca de soluções para o seu endividamento, de que este caminho terá um efeito sistémico e irá levar à perda de mais de quatro mil postos de trabalho indirectos só no País Basco.
Tanto a direcção da cooperativa como o Conselho Social entendem que o plano de viabilidade apresentado “possibilitaria a reestruturação da empresa e a manutenção das suas actividades rentáveis, assim como de uma parte importante dos postos de trabalho”, mas que a sua implementação obrigaria ao dito financiamento. A declaração ocorre dois dias depois do actual presidente do Grupo Fagor Electrodomésticos, Sergio Treviño, ter dito à televisão pública basca que o plano de reestruturação contempla, como linhas mestras, o encerramento das actividades deficitárias, como o frio, e a concentração no encastre, cocção e mini domésticos.
Contudo, no entender da Corporación Mondragón, este plano não é viável porque o problema fundamental da Fagor Electrodomésticos “tem que ver com a sua capacidade para concorrer no mercado global e adaptar-se às mudanças que estão a ocorrer no sector com novos concorrentes e novas regras do jogo”. O que “é comum a qualquer empresa, independentemente da sua natureza jurídica” sustenta, justificando a recusa de financiamento adicional.
Situação que, de resto, já era esperada pelo governo basco, que aguardava apenas este comunicado oficial por parte da Corporación Mondragón. Esta quarta-feira, Arantza Tapia, responsável pela área da Indústria e Competitividade, admitia que a Fagor estava encaminhada para o “pior dos cenários”, que é precisamente a decisão de liquidar a actividade. Arantza Tapia indicou que o Gabinete Urkullu estava disposto a ajudar, mas insistiu que no caso da Fagor não se pode adoptar a posição de uma empresa privada.
Não obstante a recusa de financiamento, a Corporación Mondragón confirmou que vai oferecer a sua colaboração ao longo dos próximos meses “para tentar salvaguardar o máximo de postos de trabalho nas unidades de negócio sustentáveis”. Além disso, vai disponibilizar os mecanismos de solidariedade necessários para reduzir o impacto sobre o emprego, oferecendo recolocações noutras cooperativas do grupo, promovendo pré-reformas e programas de formação para facilitar a empregabilidade. A Corporación Mondragón quis clarificar que é uma associação de cooperativas autónomas e independentes entre si e que tem de defender os interesses de todas, mas que “a responsabilidade de gestão dos negócios recai inteiramente sobre cada uma delas”.
Todo este processo está a pressionar ainda mais as filiais Fagor Brandt, em França, e sobretudo a Fagor Mastercook, na Polónia, país onde não existe uma figura jurídica que permita ganhar tempo na busca de novas vias de financiamento ficando à mercê dos credores. Esta quinta-feira, a filial polaca apresentou no Tribunal Comercial número 1 de San Sebastián o concurso de credores, decisão comunicada à Comissão Nacional do Mercado de Valores.
A Fagor Electrodomésticos tem uma dívida de aproximadamente 830 milhões de euros. O exercício de 2012 foi encerrado com um prejuízo de 89 milhões de euros, que se somam aos 66,8 milhões acumulados no primeiro semestre deste ano.
A empresa assegurou que vai comunicar esta manhã à Comissão Nacional do Mercado de Valores a decisão quanto ao futuro da cooperativa.