A cotação da Fnac em Bolsa deverá ocorrer já no próximo dia 20 de Junho. Para seduzir os investidores, Alexandre Bompard destaca, entre os pontos fortes da empresa, o facto de não ter dívida, numa altura em que muitos grandes retalhistas se vêem obrigados a renegociar com os credores os seus prazos de pagamento.
Numa entrevista ao Les Echos, o director geral da Fnac salienta ainda a cultura de inovação que sempre se viveu na empresa. Argumento que vai também sublinhar junto dos investidores, numa ronda que passará por Londres, Nova Iorque, Zurique e Frankfurt. Dia 18 de Junho, a assembleia geral da Kering, antigo grupo PPR, deverá aprovar a cisão da filial e a sua introdução na Bolsa de Paris dois dias depois.
De acordo com jornal francês, a operação junto dos investidores é delicada, até porque a cotação da Fnac em Bolsa não tem como objectivo o seu financiamento mas sim a “limpeza” do balanço da Kering dos maus resultados das suas filiais de distribuição comparativamente ao seu negócio de luxo, onde se quer centrar. A Fnac, concretamente, tem-se ressentido muito do impacto da crise, com os produtos técnicos a caírem entre 10 a 20 por cento ao ano e as vendas de livros e de música a baixarem entre cinco e 10 por cento.
A “holding” da família Pinault, a Artémis, deverá manter-se no capital da Fnac durante pelo menos três anos. Numa primeira fase, que deverá ter a duração de dois anos, a sua participação rondará os 38 por cento, baixando depois para os 25 por cento. Mas os fundos ligados ao índice CAC 40, ao luxo ou aos países emergentes, que receberão uma acção da Fnac por cada oito acções da Kering que possuam, deverão vender esta participação. A valorização da Fnac entre 450 e 500 milhões de euros corresponderá a um preço por acção de 25 euros. Os analistas acreditam que os investidores deverão esperar a baixa de preço resultante da saída dos accionistas da Kering do seu capital para começarem a comprar títulos.
Assim, para atrair os investidores, o director geral da Fnac destaca cinco pontos-chave, nomeadamente os activos intrínsecos da insígnia, os resultados positivos do modelo de transformação implementado desde 2011, a boa resistência em 2012, tendo em conta o ambiente económico fortemente degradado, a manutenção da presença da Artémis e a solidez da sua situação financeira. De acordo com Alexandre Bompard, a actividade da Fnac e a sua margem operacional deverão estabilizar em 2016.
Na mesma entrevista, o responsável máximo pela Fnac detalha que, no que concerne a sua estrutura financeira, a Kering procedeu ao aprovisionamento de fundos próprios, situando a sua tesouraria no valor líquido de 422 milhões de euros. Foram ainda negociados 250 milhões de euros em linhas de crédito “revolving”. No entanto, sublinha Alexandre Bompard, a Fnac não tem dívida, até porque leva a cabo um plano de poupança de custos de 80 milhões de euros ao ano, o que lhe permite prosseguir os seus investimentos.
Desde 2011 que a Fnac modificou a sua oferta introduzindo novas famílias de produtos, como os pequenos domésticos. A rede de lojas foi também remodelada, com o desenvolvimento de conceitos de 150 a 600 metros quadrados, adaptados a zonas onde era impossível ter uma loja Fnac, como os aeroportos ou as pequenas localidades. Estes conceitos são desenvolvidos num regime de “franchising”, o que dispensa a alocação de capitais próprios.
Não obstante, a transformação mais estruturante da Fnac é a sua viragem para o multicanal, com 15 por cento das vendas a serem feitas através do “site” Fnac.com, que recebe 8,5 milhões de visitantes únicos mensais. Contudo, salienta o director geral, grande parte da actividade do “site” está correlacionada com as lojas. “A loja mantém-se no centro da nossa actividade e, quando abrimos um ponto de venda físico, o tráfego do” site” aumenta na mesma zona”.
Alexandre Bompard avança ainda que todas as transformações sofridas pelo modelo de negócio da Fnac começam a dar frutos, com as novas ofertas de produto a compensar a queda das vendas de música. “O nosso volume de negócios baixou apenas 2,1 por cento, paras os quatro mil milhões de euros, e conseguimos conter a queda dos nosso resultado operacional”.