A Media Saturn vai iniciar o encerramento de todas as suas actividades no mercado chinês no próximo dia 11 de Março, avança a Alimarket Electro. O processo arranca com o fecho das sete lojas em Xangai e deverá estar finalizado em Abril.
Desde a abertura da primeira loja, em 2010, até ao anúncio de saída deste mercado, a Media Markt materializou apenas sete pontos de venda, todos na região de Xangai, distanciando-se e bem do objectivo inicial indicado, de que abriria 100 unidades até 2015. Entre as razões que motivaram esta retirada do mercado chinês está uma feroz concorrência baseada no preço, sobretudo por parte dos operadores online, que estão a dificultar muito a actividade dos outros retalhistas, sobretudo os estrangeiros, casos da Tesco e Home Depot. Por outro lado, o projecto sofreu outro golpe com a saída de Erich Kellerhals, um dos fundadores originais da Media Markt, da empresa na China. Decisão que teve forte influência, dado que a Media Markt China nasceu como uma sociedade conjunta onde o Grupo Metro e as duas famílias fundadoras da Media Markt, Kellerhals e Stiefel, controlavam 75 por cento da mesma.
Segundo dados relativos aos primeiros nove meses de 2012, as sete lojas que a Media Markt explora na China facturaram cerca de 100 milhões de euros, acima dos 61 milhões de euros do período homólogo de 2011, mas as perspectivas apontam um fecho de ano com perdas de 40 milhões de euros.
A Media Markt chegou à China em 2010, através de uma parceria com a empresa de Taiwan Foxconn Technology, em que esta última possuía 25 por cento das acções. O primeiro ponto de venda inaugurou a 17 de Novembro, sendo o segundo maior da insígnia em todo o mundo, com mais de 9.500 metros quadrados. A Media Markt dava, assim, os primeiros passos num mercado muito apetecível, pelas oportunidades de expansão que proporciona, mas que também se apresentava como um "osso duro de roer". O líder mundial, a Best Buy, já lá estava desde 2006, com muitas dificuldades de expansão, especialmente onde existia pressão dos principais "players" locais, a Suning e a Gome. Um ano depois da entrada da Media Markt, a Best Buy anunciava a sua saída deste mercado.
Na altura, o Planet Retail analisou as vantagens e os desafios que a Media Markt podia encontrar neste mercado, concluindo que o seu sucesso era ainda uma incógnita, dependente de muitos factores, desde o conceito de loja, à estratégia de gestão descentralizada, sem esquecer as reacções esperadas pelos restantes retalhistas. Esta análise, então publicada pela Rm-Revismarket, destacava que a Media Markt levava para a China um conceito de loja muito diferente do dos seus concorrentes. Os retalhistas locais, como a Suning e a GOME, são normalmente muito flexíveis em termos da decoração e "layout" da loja e da oferta disponibilizada, adequando-os à dimensão e forma de cada ponto de venda e às necessidades específicas dos consumidores locais. As suas lojas têm entre três mil e 10 mil metros quadrados e normalmente localizam-se nas caves dos grandes edifícios ou ocupando instalações próprias. O que a Media Markt exportou para a China foio conceito europeu, com as suas grandes áreas, decoração simples e uma grande oferta de produtos a preços competitivos.
Outra das inovações que a retalhista levava para este mercado era o seu característico modelo de gestão descentralizada. Jack Sun, o director da primeira loja de Xangai, possuía uma participação de 10 por cento no ponto de venda, o que lhe dava maior poder e liberdade de decisão relativamente às operações, compras e promoções a implementar. Adicionalmente, notava o Planet Retail, ao contrário da Suning e da GOME, que se apoiam nos recursos humanos dos fabricantes, a Media Markt investiu no recrutamento e formação dos seus próprios colaboradores, a mesma estratégia usada pela Best Buy, para garantir a imparcialidade e profissionalização do serviço ao cliente. Ora, esta que é, à partida, uma vantagem competitiva da Media Markt, poderia tornar-se num entrave à sua expansão, devido à falta de recursos humanos qualificados na área do retalho. A primeira das sete lojas teve a sua inauguração inicialmente agendada para Setembro, tendo sido consecutivamente adiada até 17 de Novembro. Os rumores indicavam que este atraso se devia sobretudo ao facto da Media Markt não conseguir recrutar profissionais qualificados. A retalhista ofereceria um salário anual a rondar os 300 mil dólares para o gerente da loja, mas poucos profissionais da GOME e da Suning se mostraram interessados no lugar, parcialmente porque não tinham confiança quanto ao futuro da Media Markt na China. A insígnia acabou por contratar um profissional que trabalhava para o Carrefour há cinco anos.
Outra questão que se levantava é como a Media Markt iria competir com base no preço contra a Suning e a GOME? Estes dois retalhistas chineses têm um significativo poder de negociação com os fornecedores no país, devido ao facto de terem uma ampla rede de lojas. Ao contrário da Best Buy, que se posicionou no segmento médio-alto, para evitar ter de concorrer com os retalhistas locais, a Media Markt iria entrar posicionando-se no segmento competitivo.
A última nota na análise do Planet Retail questionava o quão ambicioso era o plano de expansão na China. Sem dúvida que se trata de um mercado pouco saturado, onde existe ainda um enorme potencial para a abertura de novas lojas. Contudo, existem poucas localizações adequadas para novos e grandes pontos de venda em Xangai. Adicionalmente, a Suning e a GOME, com as suas já estruturadas redes de lojas, não iriam dar estas melhores localizações de “mão beijada” à Media Markt. Tome-se o exemplo da Best Buy, que até tinha o músculo financeiro para se expandir na China, mas a GOME e a Suning conseguiram travá-la, recorrendo-se das suas ligações ao governo e empresas locais. Com tantas dificuldades, a Best Buy abandonou o mercado chinês em 2011, restringindo as suas operações à Five Star, insígnia que tinha adquirido em 2006. Trajectória que é agora seguida pela Media Markt.