No que define como um “estranho paradoxo da globalização”, a revista Business Week revela que fabricantes chineses, especialmente na área da electrónica, estão a gastar milhões na construção de fábricas em países da União Europeia.
Segundo o artigo, a região preferencial para a implantação destas unidades, alternativas à produção na China, é a Europa Central, nomeadamente países como a República Checa, Roménia, Bulgária e Hungria. A revista dá como exemplo a fabricante de electrónica Sichuan Changdong, que está a construir uma fábrica no valor de 30 milhões de dólares em Nymburk, na República Checa, para a produção de um milhão de televisores de ecrã plano ao ano, assim que atinja a capacidade total.
Assim, tal como os fabricantes japoneses iniciaram a produção dos seus equipamentos naquela região há mais de uma década, a China e Taiwan começaram agora a abrir novas fábricas e a expandir as mais antigas, numa estratégia de aproximação aos consumidores europeus. De acordo com a Business Week, dezenas de empresas chinesas e taiwanesas investiram um total de 300 milhões de dólares na região.
Outro dos exemplos citados no artigo provém da Foxconn Technology, de Taiwan, que fabrica, na República Checa, computadores e outros equipamentos para a HP, a Cisco e a Apple, empregando cinco mil pessoas. Também a fabricante de televisores Tatung estabeleceu uma unidade de produção no país, com uma capacidade para 50 mil aparelhos de ecrã plano por mês. A chinesa Hisense abriu em Novembro uma fábrica de televisores, na Hungria, dando emprego a 110 pessoas. E um mês antes, o grupo SVA inaugurou, desta vez na Bulgária, uma fábrica de televisores e outros artigos de electrónica.
A Business Week atribui esta capacidade de atracção da Europa Central ao facto de se configurar como “uma porta traseira para a União Europeia”, onde os salários ainda são uma fracção dos praticados na Europa Ocidental. Os governos nos novos Estados-membros vêem com bons olhos os investimentos, oferecendo, muitas vezes, incentivos aos fabricantes que gerem empregos. A Foxconn Technology e a Sichuan Changdong, por exemplo, garantiram dez anos de benefícios fiscais na República Checa.
Por outro lado, a revista sublinha que a produção na União Europeia permite às empresas chinesas evitar a tarifa de 14 por cento que Bruxelas aplica nos televisores fabricados na China. Mas mesmo nos produtos isentos desta tarifa, o fabrico na Europa Central é uma alternativa a considerar, uma vez que permite às empresas acelerar a sua produção para satisfazer os picos na procura e disponibilizar os produtos aos utilizadores mais rapidamente do que se os tivessem que enviar por barco ou mesmo avião.
A contrapartida são os custos de operação. Fabricar na Europa Central não é mais barato do que na China. Na República Checa, por exemplo, os salários são, em média, 500 dólares por mês para uma semana de 40 horas de trabalho, enquanto na China se situam entre os 100 e 150 dólares por mês para uma semana de trabalho com muitas mais horas. Acresce ainda o factor absentismo, que chega a atingir, na República Checa, 15 por cento, em alguns dias. Assim, algumas empresas chinesas começam a olhar para a Ucrânia e para a Rússia.