72 por cento da população portuguesa foi, em maior ou menor grau, influenciada pela crise económica, mudando o seu comportamento de consumo. Esta é uma das grandes conclusões do estudo “Resposta dos Portugueses à Crise em 2009”, apresentado ontem, dia 16 de Novembro à imprensa, pela TNS Worldpanel.
A base da análise incidiu sobre o comportamento de consumo dos lares de Portugal Continental nos primeiros oito meses de 2008, identificando quatro grupos de lares, cujos comportamentos face às compras de supermercado e reacções perante a recessão diferem. O estudo concluiu assim que apenas 28 por cento da população afirmou não ter sentido na pele os problemas da crise. Mesmo assim, 27 por cento destes consumidores assumem que também poupam por preocupação.
A grande maioria da população portuguesa revela então estar a sofrer com o impacto da crise, tendo reduzido os seus gastos em 1,6 por cento. No entanto, dos que se ressentiram com a crise, apenas 22 por cento tinham realmente razões para refrear o seu consumo. A esta percentagem corresponde o grupo dos “Impactados”, cerca de 850 mil lares onde 2,7 milhões de portugueses estão a ser severamente atingidos, reduzindo em 3,1 por cento os seus gastos em produtos de grande consumo. Estes consumidores São tipicamente casais com filhos adolescentes ou famílias numerosas, que auferem de um rendimento muito inferior à média e, para os quais, o factor preço é primordial nas suas compras.
Cada acto de consumo é fortemente racionalizado pelos “Impactados” que têm até dificuldades em cobrir as suas necessidades essenciais. 52 por cento destes consumidores mudaram de loja habitual na busca dos melhores preços, a maior parte reduziu as compras por impulso e passou a ir menos vezes às compras, optando por compras de despensa. Já na loja, estes consumidores privilegiaram os grandes formatos de produtos de marca própria.
Os restantes 50 por cento de portugueses que reagiram à crise fizeram-no mais por razões de índole subjectiva, influenciados pelo ambiente social, pela falta de confiança e pela preocupação com o emprego, dado que, do ponto de vista objectivo, não tinham razões para deixar de consumir. Quer isto dizer que, se o grupo dos “Influenciáveis” não tivesse reduzido os seus gastos em um por cento, a situação do mercado de grande consumo teria sido 50 por cento menos grave do que foi. Estes consumidores reduziram não só as suas despesas não essenciais, mas também os produtos de grande consumo, e a recessão económica foi o factor catalisador para aderirem às marcas próprias. São tipicamente casais com filhos pequenos e agregados familiares de três pessoas, com rendimentos iguais à média, mas que se consideram muito pessimistas. 60 por cento acreditam mesmo que a crise vai demorar mais dois anos.
Ainda assim, a TNS salienta que os padrões de consumo actuais estão já muito próximos dos de 2007, beneficiando da descida generalizada dos preços. No geral, os portugueses estão menos contraídos na hora de ir às compras e, embora a comprarem menos vezes, estão a fazê-lo em maior quantidade. Analisando os primeiros oito meses de 2009, a consultora verificou que os gastos por acto de compra aumentaram quatro por cento, enquanto o volume cresceu seis por cento. Face ao mesmo período de 2008, registou-se um aumento do volume de compras de 2,8 por cento.