Câmara Internacional de Comércio convoca G8 para travar nacionalização da economia
A Cimeira do G8 deve resistir às pressões de optar pelo nacionalismo económico e endereçar pelo reforço da cooperação internacional, de forma a responder aos desafios lançados pela actual recessão mundial, pelas mudanças climatéricas e pela contrafacção de produtos.
Este foi o apelo da Câmara Internacional de Comércio (ICC) ao Primeiro-Ministro italiano, Silvio Berlusconi, anfitrião da próxima Cimeira do G8 em Áquila, de 8 a 10 de Julho. “Transmitimos a importância de resistir às pressões proteccionistas, que iriam conduzir a uma recessão mais profunda e prolongada,” referiu o presidente honorário da ICC, Marcus Wallenberg, após a sessão privada. “Com a economia mundial tão integrada, como se tem vindo a registar nas últimas décadas, qualquer tentativa de nacionalizar a economia deslocaria ainda mais a actividade comercial”.
Os encontros entre o anfitrião da cimeira anual do G8 e a Câmara Internacional de Comércio são já tradição e permitem a representação dos pontos de vista da comunidade de negócios mundial ao mais alto nível. As perspectivas de negócio são também apresentadas numa declaração de seis páginas, entregue a Silvio Berlusconi na reunião.
Além da presença de Markus Wallenberg, a delegação do ICC contou ainda com a presença do vice-presidente Rajat Gupta e de Andrea Tomat, presidente da ICC e CEO da Lotto Sport Itália. A delegação também transmitiu a Silvio Berlusconi a necessidade urgente de aumentar o comércio financeiro, o “sangue da economia internacional”, no qual o comércio internacional se baseia. “O ICC continua a pressionar oficialmente os bancos e as agências de garantia às exportações, a expandirem de forma significativa as suas instalações de comércio financeiro, mesmo durante a recessão global”, adiantou Markus Wallenberg.
Os líderes da ICC voltaram a apelar ao G8 para que este reuna a vontade política para completar a ronda de negociações Doha-Round, com a justificação de que a actual crise económica tornou-a mais urgente que nunca. O ICC elogiou as recentes promessas feitas pelos líderes do G20, de se absterem de levantar as barreiras ao comércio antes do fim do ano 2010.
A delegação da Câmara Internacional de Comércio mencionou que, apesar dos sinais de esperança suscitados pelo aparente levantar da recessão em algumas das maiores economias a nível global, a prioridade imediata deve ser o aumento da procura e do crédito. A delegação também convidou os países mais industrializados do mundo a encontrarem formas mais eficazes de reduzirem os desequilíbrios nas suas contas correntes externas e alertou-os para a tendência entusiasta de regularização de sectores de negócios onde a auto-regulação estava a funcionar bem.
O ICC encorajou o G8 a desempenhar um papel preponderante no combate às alterações climatéricas e expressou o seu apoio à Estrutura da Convenção das Nações Unidas sobre as Alterações do Clima, que vai tentar alcançar um novo acordo global de regulação da emissão de gases na atmosfera, no próximo mês de Dezembro em Copenhaga. “As alterações climáticas são, talvez, o melhor exemplo de um problema global com necessidade de uma resolução também ela global,” comentou Rajat Gupta após a reunião. “Preocupa-nos, no entanto, as propostas de alguns países que pretendem promulgar medidas unilaterais ao comércio, de maneira a abordar as diferentes preocupações relativamente à política do clima entre os vários países”.
A delegação do ICC referiu ainda que, apesar da contrafacção de produtos e a pirataria se tenha tornado um tópico constante nas cimeiras do G8, na realidade, o problema continua a crescer e representa cada vez mais um perigo para a sociedade. “O resultado é a concorrência desleal em relação às actividades económicas e o crescimento descontrolado de uma economia paralela, que priva os governos de receitas fundamentais aos serviços públicos, desloca centenas de milhar de empregos legítimos e expõe os consumidores a produtos perigosos e ineficazes, incluindo produtos farmacêuticos”, mencionou Andrea Tomat.
O ICC pediu acções concretas nesta área, incluindo a rápida conclusão do Acordo Anti-Contrafacção que vai permitir estabelecer novos e mais rigorosos limites às acções governamentais a nível nacional e internacional, de forma a lidarem com a contrafacção e a pirataria, assim como a criação de uma equipa de trabalho de protecção à propriedade intelectual, que ficaria encarregue do estabelecimento de uma melhor cooperação operacional entre as autoridades alfandegárias dos que integram o G8, daria apoio aos serviços alfandegários dos países em desenvolvimento e permitiria a partilha de melhores práticas nos controles de segurança e nas zonas de comércio livre. “Reforçar a luta à contrafacção e pirataria nas fronteiras é urgente”, disse Andrea Tomat. “Os esforços governamentais de reforço aos regimes de protecção à propriedade intelectual devem ser encarados como investimentos que pagam dividendos ao desenvolvimento económico e à sociedade. Está na altura de aumentar, e não de diminuir, os recursos que foram prometidos ao combate ao tráfego ilegal de contrafacção e à pirataria”.