Disposição de compra do consumidor português atingiu o valor mais elevado desde 2000
Os indicadores das expectativas económicas e dos rendimentos, bem como a disposição para comprar aumentaram em finais do ano passado em quase todos os países da União Europeia (UE), apesar de ainda demorar algum tempo até os consumidores portugueses se encontrarem numa situação de terem dinheiro para grandes compras. O clima de consumo para a UE28 também melhorou em 1,3 pontos no último trimestre, encerrando o ano em 5,5 pontos. Estas são as conclusões da sondagem GfK Consumer Climate, em 14 países europeus.
Em 2014, a economia portuguesa voltou a registar um crescimento considerável, pela primeira vez desde 2010, o que se refletiu na disposição de compra do consumidor. As expectativas económicas continuaram a melhorar, de -12,4 pontos em dezembro de 2013 para 16,0 pontos em novembro de 2014. Este é o valor mais elevado desde março de 2000 (16,1 pontos). Os consumidores portugueses presumem manifestamente que o país superou a crise económica e financeira.
Este fator também beneficiou as expectativas dos rendimentos. Partindo de -24,2 pontos em janeiro de 2014, o indicador registou uma subida para 4,7 pontos em outubro, o nível mais elevado desde janeiro de 2010. Em virtude da evolução económica favorável, os consumidores parecem confiantes de que a situação nos mercados de trabalho continuará a melhorar, pelo facto de que o nível do desemprego irá diminuir. No final do ano, o indicador tinha registado uma ligeira queda para 2,6 pontos.
Em conformidade com as expectativas, a disposição para comprar ainda não beneficiou da melhoria das expectativas económicas e financeiras. Na sequência da longa crise económica, ainda demorará algum tempo até os consumidores portugueses se encontrarem numa situação de terem dinheiro para grandes compras. Devem em primeiro lugar ser capazes de voltar a cobrir as suas necessidades diárias sem quaisquer dificuldades. A tarefa agora é de estabilizar o crescimento económico e impulsionar o mercado de trabalho. Antes de a disposição para comprar poder voltar a registar valores positivos, o desemprego terá de baixar significativamente em conjunto com consideráveis aumentos nos salários e nos vencimentos. Em dezembro de 2013, o indicador encontrava-se em -38,7 pontos, ao passo que, exatamente um ano mais tarde, registava -31,1 pontos.
Estado de Espírito dos consumidores: dividido em duas partes distintas
Analisando o desenvolvimento económico dos países da UE e o humor dos consumidores em 2014, o ano pode ser dividido em duas partes distintas. No primeiro semestre do ano, as economias de praticamente todos os países europeus estavam a evoluir de forma positiva. Os consumidores estavam manifestamente a tornar-se cada vez mais confiantes de que a crise económica e financeira chegaria finalmente ao fim nos próximos meses. Entre abril e junho, os indicadores das expectativas económicas e dos rendimentos, bem como a disposição para comprar alcançaram níveis máximos recorde em quase todos os países. O índice do clima de consumo registou 9,1 pontos em junho, que é o valor mais elevado desde abril de 2008.
No entanto, no verão e no outono, a incerteza começou a aumentar, não só entre os consumidores como também na economia, o que pode ser atribuído a uma série de motivos diversos. O conflito na Ucrânia atingiu o seu auge. Os comentários do Presidente russo, Vladimir Putin, causaram incerteza, sobretudo nos países da Europa de Leste. No Médio Oriente, o conflito em curso entre Israel e a Palestina e o avanço do grupo militante Estado Islâmico dominaram a atenção do mundo inteiro. A epidemia de Ébola também deslocou a atenção global para a África Ocidental. À medida que os primeiros pacientes eram levados para a Europa e para os EUA para serem tratados, aumentava o receio de que o vírus se iria espalhar. No que diz respeito à situação económica, as condições de enquadramento também se deterioram. Em muitos países, o aumento do produto interno bruto (PIB) foi muito mais lento do que previsto, enquanto alguns países até registaram uma queda. Esta situação foi ainda afetada por um nível de inflação extremamente baixo. Em especial, os países da Europa Meridional, tais como a Espanha, lutavam contra a deflação. Existia também o risco de uma evolução negativa dos preços para a UE como um todo. A taxa de inflação para a UE 28 registou -0,1 por cento em dezembro, enquanto a taxa na zona do euro ainda era mais baixa, registando -0,2 por cento. Isto deve-se principalmente ao colapso dos preços da energia.
Estes eventos contribuem todos para um nítido aumento da ansiedade entre os consumidores europeus. Os valores dos indicadores registaram uma queda no final do verão e no outono, em alguns casos de forma bastante acentuada. No entanto, no quarto trimestre, voltou a verificar-se um sentido de otimismo na maioria dos países. Embora muitos indicadores permaneçam abaixo de zero, estão a registar uma tendência ascendente em praticamente todos os países.
Todavia continua a haver riscos que poderão prejudicar o desenvolvimento económico positivo nos próximos meses. Na sequência das eleições na Grécia, há que aguardar para ver qual o curso económico que o próximo governo irá seguir e se cumprirá os acordos celebrados com os outros países europeus e a Comissão Europeia.
Este desenvolvimento também se reflete na sondagem GfK Consumer Climate da UE 28. No contexto do clima otimista em todos os países da UE, o índice registou uma subida para 9,1 pontos em junho, que é o valor mais elevado desde abril de 2008. Em setembro, baixou para 4,2 pontos. Até ao final do ano, o indicador tinha recuperado ligeiramente, registando 5,5 pontos em dezembro.
Gráfico: Portugal: confiança na recuperação económica
Fonte: GfK inquérito aos consumidores encomendado pela Comissão Europeia