“Estou a visitar as lojas físicas com menos frequência”, “estou a gastar menos em itens não essenciais, como roupas, cosméticos ou artigos para o lar”, “estou a preparar mais refeições em casa”. São estas as três ideias mais referidas pelos portugueses no inquérito EY Future Consumer Index, de abrangência nível nacional, realizado pela primeira vez em Portugal, entre a última semana de outubro e a primeira de novembro, a um universo de 522 consumidores.
A nível global, e Portugal não é exceção, a Covid-19 teve um impacto sem precedentes no comportamento do consumidor. Como resultado da pandemia, 91% dos consumidores portugueses afirma ter mudado a forma como compra, 82% a forma como trabalha e 54% os produtos que compra. A versão portuguesa do estudo revela que 89% está preocupado com a sua saúde, 88% com as suas liberdades, 87% com as suas finanças e 76% com o seu emprego.
Necessidades
Fazendo o paralelo com a chamada hierarquia das necessidades de Maslow, que define cinco categorias de necessidades básicas humanas, os consumidores portugueses auscultados no inquérito da EY passaram a valorizar, por ordem de relevância, a pertença – planeta (29%), as fisiológicas – acessibilidade (26%), a estima – experiência (20%), a segurança – saúde (16%) e a autorrealização – sociedade (9%).
A nível global, considerando o total de inquéritos realizados pela EY em 20 países, Portugal mostra alguns desajustes em relação à média. O planeta aparece no topo das prioridades dos consumidores portugueses (29%), Portugal é o mercado que mais o valoriza, enquanto a média global é de 16% e privilegia, acima de tudo, a acessibilidade (32%).
Os inquiridos em Portugal são também os que mais destacam a experiência (20%) na comparação com a média dos restantes países (11%) e na saúde: só 16% dos consumidores portugueses coloca a saúde em primeiro lugar, sendo a média global de 26%. À sociedade atribuem metade da importância que o todo: 9% versus 14%.
Consumidor na era Covid-19
“Imposta e moldada por uma pandemia, a economia do distanciamento social começa a ganhar força. Estamos, claramente, a assistir a uma economia que resulta de novos hábitos de consumo e que privilegia a diminuição do contacto social próximo, afasta-nos e aumenta as restrições de saúde sanitária. Tal terá impacto nas formas como vivemos, como trabalhamos, como compramos, como nos divertimos, movimentamos e usamos a tecnologia. Terá e já tem. Os resultados estão à vista”, afirma Sérgio Ferreira, Executive Director, Customer & Digital Experiences, Consulting Services da EY Portugal, que conduziu o inquérito no mercado português.
De acordo com o estudo, 73% dos portugueses sente que a forma como vive mudou significativamente quando comparado com o período antes da pandemia. Estão também mais cautelosos, já que 80% dize ter de pensar com mais cuidado onde gasta dinheiro, 71% vai gastar menos nas festas e feriados de dezembro e janeiro (Natal e Passagem de Ano) e 67% está a tentar poupar mais do que anteriormente, ainda que 34% esteja com rendimentos mais baixos.
O inquérito conclui também que 67% dos portugueses está disposto a experimentar novas marcas ou produtos, 58% passa mais tempo na Internet e 55% sente que a tecnologia ajuda a aproveitar mais a vida durante a pandemia.
A Covid-19 também tem afetado as compras dos consumidores, com alterações nos seus gastos em várias categorias de produtos. O estudo da EY revela que os portugueses passaram a gastar menos em atividades de lazer fora de casa, férias, produtos de luxo e outros prazeres. Em contrapartida, gastam mais em serviços de entrega de supermercado ao domicílio, alimentos frescos, enlatados e secos, e congelados. “A pandemia tem impactado a circulação de pessoas, em termos turísticos e de lazer, o modo como trabalhamos e vamos trabalhar no futuro, com o aparecimento de novas oportunidades ao nível do teletrabalho, e também a forma como os consumidores compram, que está notoriamente numa fase de transição. Muitos negócios de retalho e empresas de distribuição, por exemplo, já tiveram de se adaptar a novos modelos de compra online, home delivery, click & collect ou take away. O aumento do comércio eletrónico como suporte ao distanciamento social é, por isso, inevitável”, adianta Sérgio Ferreira.
A longo prazo, e perspetivando-se um impacto duradouro da pandemia, os mesmos inquiridos antecipam gastar menos em produtos de luxo e outros prazeres, férias e atividades de lazer fora de casa, mas também em prendas para outras pessoas e doações, equipamento desportivo e de fitness e roupa e calçado.
Regresso à normalidade
O EY Future Consumer Index conclui que, apesar das limitações impostas pela Covid-19, a maioria dos consumidores portugueses ainda se sente confortável a fazer compras em supermercados, em passear em público, ir para o seu local de trabalho e comer em restaurantes. Contudo, grande parte dos inquiridos revela desconforto em viajar em transportes públicos e de avião, fazer um cruzeiro, ir ao ginásio e a eventos/espetáculos.
Esta versão portuguesa do EY Future Consumer Index mostra, ainda, que os consumidores portugueses têm perceções diferente sobre a rapidez do regresso à normalidade, revelando que 64% conta que o trabalho volte ao normal dentro de dias ou semanas (26% espera que aconteça em meses e 10% em anos ou mesmo nunca). Comportamento semelhante têm em relação a compras: 29% acredita que estas normalizem no prazo de dias ou semanas (29% em meses e 8% em anos ou nunca).
Expectativas bem mais negativas têm no que à rapidez da estabilidade financeira e da possibilidade de viajar diz respeito. De acordo com o inquérito da EY, apenas 25% dos portugueses antevê um cenário de estabilidade financeira em dias ou semanas, ao passo que 40% perspetiva que tal aconteça em meses e 35% em anos ou nunca. As viagens deverão regressar ao seu estado de normalidade em dias ou semanas para 38% dos inquiridos, em meses para 45% e em anos ou nunca para 17%.