O segundo painel da tarde, do último dia do 16.º Congresso da APDC, subordinado ao tema “O Estado da Nação – Antever o Futuro”, contou com a participação dos representantes dos principais operadores de telecomunicações nacionais. Com a moderação de Jorge Pereira da Costa, da Roland Berger, sentaram-se à mesa do debate Luís Nazaré, presidente dos CTT, Diogo da Silveira, presidente da ONI Telecom, Henrique Granadeiro, presidente da Portugal Telecom, Paulo Azevedo, presidente da Sonaecom, e António Carrapatoso, presidente da Vodafone Portugal.
“O operador mais antigo do mercado”, como lhe chamou Luís Nazaré, CEO dos Correios de Portugal, está consciente de que “os tempos vão mudar e aceleradamente”, pelo que as exigências serão cada vez maiores. O principal desafio, a liberalização, está à porta. “O mercado completamente livre e aberto é o cenário mais provável a partir de 2009”, crê Luís Nazaré.
O administrador dos CTT sublinhou que 90 por cento do correio que circula no país é empresarial, logo o que faz o negócio dos CTT são as grandes contas, que os Correios vão manter mesmo depois da liberalização. Luís Nazaré diz que o modelo de negócio dos CTT assenta numa mão-de-obra intensiva, responsável pela factura mais pesada na estrutura de custos da empresa (cerca de 60 por cento). “Temos uma matriz laboral rígida, que carece de ser repensada para antecipar os tempos de concorrência que aí vêm”, advoga Nazaré. Ainda assim, garante que não pretende abdicar da presença territorial, que faz do serviço dos CTT “o verdadeiro serviço público”.
A média dos objectos postais entregues está a cair ao ritmo de três por cento ao ano, devido à concorrência de outras formas de comunicação, mas as novas tecnologias não representam apenas uma ameaça para os CTT, declara Luís Nazaré. A empresa está a investir em novos segmentos de negócio, como é o caso da gestão documental ou o Pay Shop.
Diogo da Silveira, presidente da ONI Telecom, referiu que a aposta da empresa se mantém centrada no segmento empresarial, onde detém cerca de 20 por cento de quota de mercado. O presidente da ONI prevê que a empresa possa vir a ter uma oferta mista fixo-móvel, caso o mercado o permita. Ou seja, caso o cenário da OPA da Sonaecom sobre a PT venha a concretizar-se.
Já Paulo Azevedo vê a Sonaecom como um agente de mudança para o sector das telecomunicações. “Queremos ser um agente de transformação do sector, uma empresa inovadora”, afirma. O empresário aproveitou o palco do Congresso para apresentar os bons resultados do grupo que dirige, em todos os segmentos do negócio.
Em relação à OPA, Paulo Azevedo acredita que será uma situação “importante para o consumidor e benéfica para o país”. Contudo, alerta, “só poderá ter sucesso se tiver o apoio regulatório do Governo e da PT”.
Para o futuro, o presidente da Sonaecom tem uma visão muito clara do que será o sector das telecomunicações num cenário de OPA. No segmento móvel, aquele responsável acredita que o sector será mais eficaz com dois operadores do que na actual situação de três. Para a rede fixa, Paulo Azevedo salienta a capacidade concorrencial, de incentivos e de inovação que será gerada com a separação das redes de cabo e cobre.
O presidente da Sonaecom clarificou ainda a situação financeira do grupo caso a OPA avance. “Vamos encetar uma rápida reorganização em cerca de dois anos”. Paulo Azevedo declarou ainda que os accionistas do grupo concordaram em não receber dividendos durante cinco anos, “ou até mais, se for preciso”, e que apoiam um aumento de capital significativo, muito importante para o pagamento da dívida de reorganização. Só nos primeiros dois anos, esta dívida custará ao grupo cerca de 700 milhões de euros.
Em posição de desacordo, António Carrapatoso apontou algumas razões para que a OPA não avance, bem como clarificou a sua posição face às deliberações da Autoridade da Concorrência (AdC) em relação ao mesmo assunto. As críticas à AdC transformaram-se numa lista de “sete pecados”, como lhe chamou. No fundo, o empresário acredita que a AdC não soube defender os consumidores e que houve uma “compensação forçada” ao permitir a fusão entre a TMN e a Optimus. “Não faz sentido num mercado que funciona bem só para beneficiar um novo mercado fixo”.
Segundo António Carrapatoso, o ideal seria que o sector continuasse a competir e a inovar como até aqui, que contribuisse para a retenção de investimento em Portugal, e que se mantivesse como pilar essencial para a aposta tecnológica. Mas, alerta, “para isso é necessário manter os recursos motivados e o mercado em competição”.
O presidente da Vodafone Portugal aproveitou ainda para destacar algumas das tendências que antevê para o sector. Segundo ele, as ofertas em bundle irão aumentar no seio dos operadores de maior dimensão, a convergência entre fixo-móvel e PC-telemóvel serão cada mais uma realidade, o nível de inovação manter-se-á elevado sobretudo no móvel e a segmentação do mercado será feita essencialmente por tipos de necessidades.
“A indústria das telecomunicações ainda não conseguiu chegar a um novo paradigma”, afirmou Henrique Granadeiro. Mas, para o presidente do grupo PT, o sector ultrapassou já uma encruzilhada organizacional, o que lhe tem permitido evoluir de forma progressiva. E exemplifica na convergência de redes, com ofertas triple e quadruple play por parte de quase todos os grandes operadores, e também nas redes de cabo e móveis, que se transformaram em alternativas, criando um modelo de concorrência entre todos.
No que se refere ao negócio móvel, Henrique Granadeiro aponta a falta de regulação como um entrave à entrada de operadores virtuais (MVNO). “Este segmento tem sido pouco regulado e deixado à mercê das regras do mercado”. Já no fixo, o presidente da PT afirma que a concorrência conseguiu impor-se apesar das “restrições do Regulador para com incumbente”.
Outra tendência do sector tem sido a entrada de novos ‘players’ num terreno tradicionalmente fixo. É o caso dos operadores móveis que adequaram as suas ofertas de forma a oferecer serviços fixos de voz, o mesmo sucedendo no segmento da banda larga, salienta aquele responsável.
Para este orador, a mudança de paradigma que se espera no sector obriga a reflectir sobre alguns desafios, de entre os quais salienta a importância de manter a concorrência no segmento móvel e de ajustar a regulação no fixo. “É preciso acabar com as condições assimétricas impostas pelo Regulador à PT no que toca à oferta de bundles”.
Por seu turno, o presidente da PT assume o compromisso de apostar numa maior convergência de plataformas, separando as redes de cabo e cobre, para uma melhor eficiência. O grupo pretende ainda liderar no lançamento de novos produtos convergentes, assegurando aos accionistas os resultados de um projecto “atractivo e ambicioso”.
Fazendo um pouco de futurologia, Henrique Granadeiro acredita que o cenário do sector das telecomunicações passará por uma de duas situações, a consolidação, por via da OPA, que criará um operador dominante mesmo na área da distribuição, ou o aparecimento de um novo ‘player’ num contexto de mercado, que aumentará a concorrência e diminuirá a regulação. “Se a OPA fracassar temos que pensar em novas perspectivas de crescimento para o mercado interno”, concluiu.