Congresso da APDC lança análise dos próximos 20 anos do sector com especialistas mundiais do sector
O segundo dia de trabalhos do 16.º Congresso das Comunicações da APDC teve início com uma sessão subordinada ao tema “Os próximos 20 anos – Parte I”, que contou com a presença de Anthony Gilbert, director não executivo e conselheiro da eServGlobal, François Bar, professor associado de Comunicação da Annenberg School for Communication, na Universidade da Califórnia do Sul, e Dominique Detain, Communications Manager na Agência Espacial Europeia (D/EUI), como oradores e Luís Ribeiro, administrador executivo da PT Investimentos como moderador do painel.
Anthony Gilbert abordou a questão da gestão do talento e dos recursos humanos no sector das Tecnologias da Informação e Comunicação, enquanto um dos maiores desafios à escala mundial para as duas próximas décadas. “Uma das vertentes mais preocupantes prende-se com o facto de, apesar de existirem tantos talentos no mundo, estes serem tão raros nesta área específica”. Por outro lado, notou, muita coisa mudou nos últimos 20 anos. “A tecnologia mudou, os conteúdos mudaram, os serviços mudaram, a rede mudou. Há 20 anos atrás não havia o iPod, não era possível fazer download de música, as telecomunicações, mesmo as da rede fixa, eram raras e dispendiosas. E tudo isto causou impacto no mercado e nas pessoas”.
Mas a inovação que Anthony Gilbert gostaria de ver nos próximos tempos está directamente relacionada com as melhorias no sistema de reconhecimento de voz. “Uma vez que as pessoas comunicam com a voz, o cenário ideal seria o do desenvolvimento de funcionalidades que permitissem a gestão de todos os ‘gadgets’ através de um simples comando de voz”. Segundo aquele orador, este cenário, que se encontra dentro das possibilidades de evolução para os próximas duas décadas, depende de uma maior e melhor integração da banda larga com a rede fixa, rede móvel, televisãoe conteúdos.
Outra inovação, segundo Anthony Gilbert, será o funcionamento mais amplo do GPS quando este passar a disponibilizar uma capacidade de 50 centímetros, permitindo descobrir, por exemplo, o telemóvel que anda perdido algures no carro, obter informações ao milímetro sobre que direcção tomar quando se estiver desorientado, entre muitas outras possibilidades.
Mas para concretizar tudo isto, Anthony Gilbert afirma que é preciso apostar nos recursos humanos. “Primeiro, há que definir as características necessárias ao sector, permitir e fomentar o trabalho em equipas mistas (incrementa a diversidade e consequentemente a produtividade), focalizar a atenção no cliente, olhar para indústrias de outros sectores e mercados e, por último, não valorizar apenas o Quociente de Inteligência, mas também o Quociente Emocional”.
François Bar abordou um tema que está a aquecer os ânimos nos Estados Unidos, a neutralidade da Internet. Apesar de ser um tema que existe há pelo menos 20 anos, está de novo em foco por via polémica aberta por uma entrevista que Ed Whitacre, CEO da SBC Communications, deu o ano passado e onde mencionou que as empresas que utilizavam a world wide web, e que obtinham rendimentos com isso, deveriam partilhar as suas receitas. Esta mensagem abriu a discussão a nível mundial sobre a possibilidade dos operadores de telecomunicações virem a exercer algum controlo sobre os conteúdos que são transmitidos, os padrões de comunicação e toda a envolvente das comunicações por Internet. “A questão fulcral, sobre a qual não há ainda uma posição é clara, é a de saber afinal quem é que controla a rede”.
Esta questão coloca-se porque, ao contrário do que acontecia há 20 anos, já não existe uma diferença clara entre as quatro categorias de comunicação, rede fixa, televisão, correio e imprensa. “O que temos é um novo medium, que é end-to-end”, afirmou o professor. Os negócios estão cada vez mais interligados e uma organização já não está limitada a uma categoria de mercado.
Neste contexto, e de acordo com aquele orador, importa saber se, afinal, a neutralidade da Internet é ou não necessária. Para François Bar existem bons argumentos para ambos os pontos de vista. Se, por um lado, os utilizadores poderão sofrer com as consequências das acções levadas a cabo pelos operadores, o certo é que também poderão beneficiar com elas. A qualidade do serviço, por exemplo, tenderá a aumentar, na medida em que aplicações como a televisão móvel e o vídeo terão prioridade face a outras como o correio electrónico. Por outro lado, e segundo o orador, a neutralidade é necessária para proteger os utilizadores da degradação do serviço e para prevenir comportamentos anti-competitivos por parte dos operadores dominantes. “No entanto, o controlo da Internet permite a manutenção e/ou incremento da qualidade de serviço e é essencial para que os operadores apresentem uma solução diferenciadora, que contribua para a criação de riqueza e permita o desenvolvimento da rede”. A grande conclusão da intervenção deste perito é a de que é e continuará a ser difícil estabelecer regras e políticas que rejam o mercado da Internet.
Dominique Detain apresentou o sistema de navegação que a União Europeia, em colaboração com a Agência Espacial Europeia, está a desenvolver. O sistema europeu tem a vantagem de não estar dependente de nenhum país e de possuir um alcance superior, nomeadamente no que diz respeito à abrangência da interoperabilidade com os sistemas existentes e à possibilidade oferecida para o desenvolvimento de um vasto número de aplicações/serviços.
O primeiro passo deste projecto europeu, onde os portugueses se têm vindo a posicionar como fornecedores tecnológicos preferenciais, foi dado com a criação do Egnos, um sistema que já se encontra disponível. Quanto ao Galileu, a fase de definição terminou em 2003 e, no final do ano passado, foi lançado o primeiro satélite, o GIOVE, de um conjunto de 30. O objectivo do Galileu é, a breve prazo, ter uma cobertura mundial, oferecendo o que o actual serviço de GPS disponibilizado pelos EUA não oferece, nomeadamente possibilidades de utilização muito abrangentes, que vão desde serviços dedicados ao sector dos transportes, como a gestão aeronáutica, marítima ou ferroviária, a serviços baseados na localização geográfica, sem esquecer as aplicações científicas ou o lazer.